Alcova

As meninas estavam brincando no pátio quando chegou a notícia de que forasteiros estavam se aproximando para pedir abrigo.

Rapidamente Lindolfo avisou Hortência que gritou Clara e Bela para adentrarem e permanecerem no quartinho.

- Por quanto tempo, mamãe? Perguntou a mais velha.

- Até que as visitas partam daqui.

A mãe se trancou com as pequenas naquele quarto, adornado com tanto esmero, mas com um grosseiro ferrolho na imensa porta de jacarandá e sem quaisquer janelas.

Para passar o tempo, as meninas cantavam cantigas baixinho, brincavam de bonecas de retalhos até adormecerem ao lado da mãe, exausta de tédio, provavelmente ao cair da noite escura.

Pela manhã, a porta ainda estava trancada. O silêncio mostrava que não havia qualquer movimento no entorno.

O calor era sufocante e a água da bilha era pouca.

As meninas chorosas pediam alimento. Hortência não sabia o que tinha acontecido...

Eram quantos? Lindolfo não sabia dizer.

O tempo parecia não passar, quando ouviram passos do lado de fora.

- Lindolfo? Gritou Hortência?

Os passos pararam defronte à porta. Alguém forçou o ferrolho. Nada disse.

Hortência fez sinal para que as meninas ficassem em silêncio. Não fazia ideia o que poderia ter acontecido na Fazenda Cocais.

A angústia foi aumentando, seus pensamentos ficaram atordoados e entre lágrimas ela orava baixinho.

As meninas gemiam com fome e calor. Não compreendiam os perigos do lugar.

Antes de anoitecer, os passos mais uma vez ela ouviu.

Rezou mais forte até que enfim a voz de Lindolfo ecoou no corredor.

- Se foram, podem sair!

Que alívio! A porta fora destrancada e as meninas gritaram de alegria. Abraçaram as pernas do pai que sorria enquanto acariciava os cabelos da esposa, cuja proteção era sua maior responsabilidade, pois assim prometera ao moribundo coronel, seu falecido sogro.

Cláudia Machado
Enviado por Cláudia Machado em 16/01/2024
Reeditado em 17/01/2024
Código do texto: T7977992
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