FAÇA O BEM, MAS OLHE A QUEM
Nesse mundo acontece coisas que, às vezes, fica difícil a gente acreditar na sua real existência.
Falo sobre pedaços da vida de uma linda jovem de menoridade que teve instantes intoleráveis para com seus responsáveis Jardel e sua esposa Sandra.
Jardel tinha uma filha chamada Heloysa, que estudava à noite cursando o ensino fundamental numa escola bem próxima de sua casa e que, de vez em quando, Heloysa sai da escola e chegava em sua casa acompanhada com uma colega adolescente por nome de Silmara.
Silmara passou a ter um entra e sai na casa de Jardel e com esse tanto entra e sai terminaram por fazer uma boa amizade com ela ao ponto de se acostumarem com a sua constante presença.
O tempo foi passando até que numa determinada noite de um sábado, por volta das vinte horas, a Silmara apareceu chorando muito lacrimosa, tristeza e fominta. Ela estava com uma sacola de plástico contendo pouquíssimas peças de roupa. Sua aparência era de penúria, pois seu corpo fedia de lama podre; com a roupa e os cabelos enojados que parecia ter dormido num chiqueiro.
Questionada sobre o que lhe aconteceu, ela disse que na noite anterior dormiu no mato e que estava com muita fome e não tinha para onde ir, pois a sua mãe a expulsara de casa motivada por ciúme do marido. Jardel estranhou aquele motivo e passou a fazer várias perguntas sobre a sua vida familiar. Cuidadosamente Silmara informou que a mulher a quem ela chama de mãe era apenas a sua mãe de criação, pois, quando ela era pequenina o seu pai teria se enforcado e sua mãe legítima a abandonara e que a partir daquele dia Delmira lhe criara.
Frente aquela situação e sem ter outra opção, Jardel e Sandra acolheram-na e combinaram que no dia seguinte iriam falar com Delmira: a tal mãe de criação.
Quando o domingo amanheceu o casal foi até a casa de Delmira para combinar o retorno de Silmara de forma pacata, ordeira e civilizada. Lá contaram o que estava acontecendo com a jovem e tiveram o desprazer de ouvirem da tal mãe de criação a seguinte exclamação:
- Vocês não sabem com quem estão se metendo! Essa menina é um verdadeiro diabo, um satanás. Sabem porque a expulsei de casa? Sabem? Porque peguei ela na cama com o meu marido! Se ela entrar aqui, daqui sairá um caixão de defunto!
Com aquelas palavras o horror estava estampado nas faces do casal acolhedor.
Ao ouvirem tais palavras arrepiantes, Jardel e Sandra se entreolharam espantados e voltaram pra casa decepcionados por terem acolhido aquela infeliz criatura.
Alguns dias se passaram até o casal tomar a decisão de registrar um Boletim de Ocorrência. Na delegacia ouviram conselhos para irem ao Juizado de Menores a fim de solucionar o problema de forma legal e, não tendo outra saída, se dirigiram ao fórum com o Boletim de Ocorrência em mãos. Lá, foram encaminhados a um Assistente Social Forense a quem relataram o ocorrido e a seguir os direcionaram ao Juiz de Menores que leu todo relato transcrito pelo Assistente Social e para surpresa de Jardel e Sandra lhes deram um documento de Tutor da Silmara por um prazo de seis meses, tendo eles a grande responsabilidade e autoridade de pais tal como dizia a Lei tal, e o seu artigo tal.
Com o documento em mãos o casal voltou pra casa triste e desolado, pois tinham quatro filhos menores e em nada lhes agradava aquela situação. Mas, mesmo assim, a vida teria que continuar.
Jardel dizia pra Silmara arranjar um emprego, pois ela precisava ter roupas, sapato etc, etc, etc. Em meio a essa conversa ele se lembrou de um conhecido que tinha um aviário e foi a ele pedir trabalho pra Silmara. A jovem só trabalhou uma semana porque o patrão descobriu que ela tinha roubado da gaveta todo dinheiro reservado para comprar os frangos do aviário. O prejuízo foi grande e Jardel passou pela vergonha de não poder pagar o prejuízo dado pela sua tutelada.
Numa noite de sexta-feira Silmara se vestiu com a melhor roupa, se perfumou e saiu sozinha para ir à escola, mas na hora que deveria voltar pra casa ela não apareceu. Foi um corre-corre para saber onde ela estava. Os minutos corriam para a meia-noite e as pessoas se trancavam pra dormir. Alguém disse que na escola ela não havia entrado. Também disseram que ela foi vista com uns garotos no fundo da escola. Jardel e sua família ficaram sem dormir até o dia amanhecer e Silmara não voltou. Jardel entrou em desespero, pois no documento do juiz constava toda sua responsabilidade de pai. O sábado foi de tristeza, pois ninguém dava notícias da desaparecida.
Já era tardezinha do sábado quando uma garota conhecida informou que Silmara namorava com um cobrador de ônibus chamado Ailton e que ela a viu pra cima e pra baixo dentro do ônibus do tal cobrador. Jardel foi até o ponto final do ônibus e lá encontrou o tal cobrador, Ailton, a quem Jardel mostrou o documento do juiz e lhe deu o prazo de duas horas para ele entregar a garota ou iria preso. Não demorou, e um ônibus parou na frente da casa de Jardel. A Silmara estava escondida entre as poltronas de onde foi retirada a força e colocada dentro de casa.
A polícia foi chamada e todos foram parar na delegacia.
De lá a garota foi para a Febem.
Jardel e Sandra ainda tiveram que ir ao fórum com um novo Boletim de Ocorrência onde constava a insubordinação da menor e o pedido de desistência de ser tutor.