REFLEXO
Michelli fica a olhar-se , admirar-se ao espelho. Silueta esbelta e curvas bem definidas. Escova seus longos cabelos negros e sedosos, maciez sedutora, embriaguez ... Ouve as risadas de seus filhos brincando num outro cômodo da residência. Alegra-se também. Não percebe que Rodolfo, seu marido, assiste toda aquela cena, a observá-la,admirando-a da porta do quarto do casal. Relembram a época do namoro, adolescência de tantas loucuras e prazeres. Festinhas, descoberta do gosto do quero mais. Os quase amores. Os amores. O amor.
Toca o telefone e Michelli atende:
- Você está atrasada!
- Já estou saindo, Rose!
Michelli esquecera a hora de sair para a faculdade. Entra no carro afobada, mal despedira-se de Rodolfo e das crianças.
O celular toca e eles combinam em como livrar-se da amiga, para estarem juntos sem levantar suspeita alguma. Entre disfarces e suspiros combinam o encontro. Esta diz ter um problema de um cheque para resolver no shopping. Sua amiga fica na faculdade, sem nada desconfiar e com o combinado de se encontarem às 22h, no estacionamento.
Lá estava Pedro à espera de seu amor. Pelo retrovisor controla as pessoas que passam, procura em cada uma das mulheres algo que lembre um pouco sua amada ... Quanta saudade!
Entra no carro correndo e partem para viver suas fantasias. Vivem tórridos momentos de prazer, esquecem o tempo. Não contam o tempo por horas, mas por emoção, paixão. Juram amor eterno. O mundonão mais existe, senão no momento em que olham ao mesmo tempo para o relógio. Desespero total. Vestem-se com a sofreguidão dos condenados, entre motejos e beijos. Saem correndo.
Chegam ao estacionamento da faculdade. Seu marido à espera junto a sua amiga. Ele pede explicações enquanto a esbofeteia, quer entender o porquê da traição. É a fúria do louco amor. Cansada de apanhar e sem que houvesse intromissão de quaisquer pessoas, confessa seu amor por outro.
Ele a larga e ela foge. Foge de seu algoz, desesperada e envergonhada; foge. Corre ...
Ouve-se a freada, o estrondo, gritos. Michelli vê sua amiga ao chão, vítima de seu louco amor. Vítima.
Paulo, seu marido, não esboça qualquer reação. Estático. De nada desconfiava, fora apenas encontrá-la para irem embora juntos.