Eduardo, o maledicente.
Dia 1: "Aquele tal de Marco Aurélio é um garganta, convencido pra dedéu. Acredita ser a última bolacha do pacote. O sujeito é meio burro, e se acha o Einstein. Pensa que é o rei da cocada preta, mas é apenas o escravo do serviçal do criado do bobo da corte. Tipinho sem noção."
Dia 2: "Encontrei-me, ontem, com a Manuela. Que mulher! E que marido ela tem! Ela, um peixão! Pula a cerca, a moça. E o Paulo mal desconfia, coitado! Disseram-me umas e outras dela, histórias de pôr qualquer pessoa de cabelos em pé, histórias de fazer Calígula morrer de vergonha. E o Paulo?! Meu Deus! Ele é dos mansos. E os mansos herdarão o reino dos céus. O Paulo é um trouxa, um paspalho. Cego que só ele. Dizem que o marido é sempre o último a saber das aventuras da mulher. Só sei que o Paulo, metido à besta que só ele, é um banana. Até da Manuela ele apanha."
Dia 3: "O Emerson, vagabundo de primeira, que só quer saber de sombra e água fresca, sujeitinho que não chove e nem molha, e não ata e não desata, de férias, vai a Ubatuba pegar onda, banhar-se ao Sol, bronzear-se,descansar. Descansar?! Está cansado de que aquele morcego?! Trabalha num escritório, sentado, o dia todo, numa cadeira confortável, diante de um computador, a digitar letras e números sem conta. Que trabalhão! Eu gostaria de estar no lugar dele. E ele diz que trabalha! Trabalha?! Ficar o dia inteiro digitando letras e números é trabalho?! Só se for na terra daquele vagabundo!"
Dia 4: "O vizinho meu, o da direita, é um besta quadrada. Vendeu o carro pela metade do preço de mercado. Burro! Diz ele que o carro lhe dava muita despesa, que ele não podia manter, daí vendê-lo por preço abaixo da tabela. Papo furado. Ele fez besteira, mas não quer dar o braço a torcer. Sendo filho de quem é, não me surpreende que faz o que faz. Uma besta de gente."
Dia 5: "Se não me segurassem, hoje de manhã, eu arrebentaria a cara do Sérgio, aquele desgraçado, aquele zé-mané que não tem nem onde cair morto. Quem ele pensa que é?! Quem?! Aquele imbecil falando de mim pelas costas! Acheguei-me à porta do bar no Chico Bigode de Bode bem na hora de ouvir o Sergio dizer: "O Eduardo, mexeriqueiro e bisbilhoteiro que só ele, e todos lhe conhecemos a proverbial maledicência, fala cobras e lagartos de todo mundo. É um maldito embusteiro que vive de difamar, de infamar, de caluniar, de maldizer meio mundo. Tem peçonha na língua, aquele diabo. Ontem, ele..." Não aguentei ouvir mais uma palavra saída da boca daquele ser ridículo, patético, desmazelado, que não tem onde cair morto! Entrei como um furacão no bar do Bigode, fui para cima do Sérgio, jogando-lhe na cara palavrões e mais palavrões. Se não me segurassem... Quem me segurou, não sei. Mas se não me segurassem eu não responderia por mim. Com um soco bem encaixado nas fuças do Sérgio eu o mandaria, aquele estrume! desta para a melhor! Ah! Se mandaria! Para a sorte dele, seguraram-me! Quem ele pensa que é para falar de mim o que fala?! Quem?!"