Dia 31
Eram vinte e três horas quando Frank acabou o concerto. Não tinha voz para o resto da noite. Sentia-se cansado. O espelho do camarim mostrava a imagem de um homem decadente. Aos quarenta anos, Frank já não tinha a resistência física de outros tempos. Aceitara abdicar da companhia da família naquela noite de fim de ano por amor à carreira de artista. Contudo, a pouco menos de uma hora da meia-noite, Frank começou a gerar dentro de si a ideia de que o seu corpo e a sua mente não conseguiriam aguentar mais aquela vida.
Sem dizer nada a ninguém, Frank empacotou a guitarra que usara durante o concerto dentro da mala do carro. Ainda perdeu uns breves minutos para observar o palco que o acolhera momentos antes. Não lhe dizia nada. O seu batimento cardíaco não se alterava nem um pouco. O que lhe gritava na cabeça era a família: a mulher, os filhos.
«Vem para casa», ouvia.
«Já vou, já vou…», sussurrava.
Especado a olhar para a estrada, com as mãos no volante, Frank sentiu uma indómita vontade de se enfiar na cama com uma chávena de leite quente e de nem sequer se despedir do ano velho.