Cotididiano
O dia prometia muita tranquilidade. No comecinho dele, uma preguiça gostosa embalada por um papo bem tranquilo no whatsapp, mas tinha agenda marcada e não dava para continuar.
Sem carro e sem grana para o uber, a alternativa era o ônibus. Legal! Ando depressa. Achei que seria rápido. Ledo engano. Mudaram o trânsito por conta das obras e tive que caminhar por quase um quilômetro. Não contava com o engarrafamento, e sem alternativas, não havia outro jeito a não ser relaxar. Sentada no banco do cantinho, abracei minha bolsa e fiquei a olhar pela janela. Embarquei numa máquina do tempo e fui de volta para o passado. Estranho rever aquela moça bonita de cabelos castanho médio e ondulados na altura dos ombros sorrindo tanto. Um metro e sessenta e cinco, sessenta e três de cintura, noventa e oito de busto e quadril. Trajava calça jeans índigo, uma camisa branca e scarpin preto. Voltava feliz depois de almoçar com duas amigas em um dos restaurantes próximos ao seu trabalho, na época, edifício Mayapan, o famoso “bolo de noiva”, na Av. Graça Aranha. Pararam na faixa de pedestre. O sinal abriu. Despreocupada e sorridente, atravessava a avenida com as amigas. De onde estavam, dava pra ver um restaurante que ficava bem em frente ao sinal, com a maioria das mesas ocupadas, como era de costume naquele horário. Um homem ainda bem jovem que ali almoçava levantou-se e foi ao seu encontro. Ao ficar frente a moça, com um gesto de cavalheiro dos antigos saraus, ajoelhou-se diante dela como se a convidasse a dançar. Surpresa, olhou espantada, mas ele não recuou. Levantou a mão direita em direção ao seu rosto e cantou alto e bom som, uma música que dizia assim: “O teu corpo é luz, sedução, poema divino cheio de esplendor. Teu sorriso prende, inebria e entontece. És fascinação, amor.”
O sinal abrira, e apressados os carros buzinavam todos de uma só vez enquanto as pessoas que passavam, aplaudiam e riam daquela cena digna de cinema, no mínimo inesperada. Com as bochechas vermelhas feito um caqui, seguiu meio sem jeito, enquanto o rapaz voltava para o restaurante. Desde então... um solavanco do ônibus e um maluco cantando a música do seu Jorge; “a doida vazou, a doida vazou...”. Uau, que decepção! O tempo passou depressa demais. Já era hora de descer, havia chegado ao meu primeiro destino. O que aconteceu com os dois? Hahaha! Fica por conta da sua imaginação.
Lili Ribeiro - 10/10/2017