Procura-se Gauchinho da Fronteira
O amigo Talel me convidou para sua janta no Country Club, de Foz do Iguaçu. De tempos em tempos, uma dupla patrocina a janta, o restante paga a bebida. Grande parte dos convidados são ex-peladeiros, portanto somos conhecidos de muitos anos. Ou melhor, quase todos.
Um deles, o Gui, já tinha avançado na cerveja e tropeça no pé de alguém. Esse alguém é de Terra Roxa, cidade paranaense. Eu me antecipo, o Gui já está dentro do litro, como dizem por aqui, e peço desculpas em nome dele. O ofendido mostra bom humor:
- Tudo bem, sou de Terra Roxa, é só mais uma mancha roxa no pé.... Brincadeira!
Aí, sou eu que entro na conversa:
- Num brinca, Terra Roxa, do Gauchinho da Fronteira? Perguntei puxando assunto, mas o cara conhecia a figura e se empolgou:
- Num brinca, conhece o Gauchinho? Baixinho, gordinho, quase sempre pilchado?
- Esse mesmo. Morava em Bella Vista, sul do Paraguai, pertinho de Encarnación e Posadas, na Argentina.
O rapaz de Terra Roxa frisou que sua turma pesca em Ayolas, na represa de Yaciretá. Não tinha muito a ver, mas ... E continuou:
- Muito bom de gaita. Um tempo atrás fez uma paródia da música Panela Velha, que passou a ser "Panela Nova". Quer dizer, onde tinha mulher velha passou a ter mulher nova. Ficou bem engraçado, ele tem talento. Lá em Terra Roxa, todo mundo aprendeu a paródia do conterrâneo.
- Era O Cara. Andava pilchado, esse mesmo. Vamos brindar à saúde do Gauchinho.
Aí, mandamos bem. Conversa vai, cerveja vem, o conterrâneo do Gauchinho se embebedava e me levava junto. Certa hora, me lembrei do Gui e o vi abandonado em uma mesa, mexendo no celular.Fui ver se estava bem, estava, mas perdi de vista o terra-roxense. Andei por aqui, por ali, fui parar no salão de festas. Era um casamento, só uísque, paletó, gravata e vestido longo. Cismei que um desses convidados foi o que me levantou numa pelada do Country, quando desloquei o ombro. Nessa hora, tenho a vaga lembrança de ouvir "tu tá louco, minha praia não é futebol" ou coisa parecida. O que lembro mesmo é que acordei em casa, com dor de cabeça e estômago embrulhando. Vai mais, vai !!!
Umas semanas depois, ouvi "Panela Velha" e me lembrei do Gauchinho. Já tinha perdido a esperança de reencontrá-lo, de bater um papo, resgatar cópias das aulas de dança gauchesca e do cd "Panela Nova", que ganhei dele e, em seguida, perdi. Agora tinha ficado fácil: só voltar no Country Club, encontrar o cara de Terra Roxa e perguntar:
- Já tem notícias do Gauchinho? Ele ainda está em Bella Vista?
Mas tinha um problema: quem era mesmo o terra-roxense? Não perguntei nome nem número de celular e, mesmo que tivesse perguntado, não me lembraria.