- VI -
Café
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Capítulo IV: Manifestação de Uriel, Bruno é tomado por visões do anjo. Uriel promete voltar para fazer algo e fala que eles são seus escolhidos.
Capítulo V: Bruno "sonha" com Mike, que se revela como soldado psíquico e o avisa dos perigos do por vir.
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Lá estava ela, com aqueles olhos castanhos esverdeados e aquele belíssimo sorriso. Seus olhos me acompanhavam enquanto eu caminhava em direção a sua mesa. A cafeteria era ótima, ficava no cntro histórico de Serra dos Cristais, com um clima aconchegante e uma leve bossa nova tocava ao fundo. O cheiro de café com canela inundava as minhas narinas. Meu coração acelerava toda vez que eu via Mônica.
Aquele seria um ótimo encontro romântico, mas a minha cabeça estava cheia de preocupações.
Afinal, queria saber aonde eu estava me metendo. Aquele papo todo de soldado psíquico e de “escolhidos” por um “anjo” me deixa bem desconfortável, para ser franco. Sinceramente, isso me parece mais coisa de culto excêntrico ou coisa parecida. Tentei evitar esses pensamentos enquanto cumprimentava Mônica com um beijo e um abraço.
– Boa tarde, moço! Nossa, Bruno, o que houve? Seu rosto está todo tenso...
Segurei a mão dela e respirei fundo. Senti aquele aroma gostoso, doce e amadeirado, que vinha dela. Um sorriso queria brotar da minha boca. Queria afastar aqueles pensamentos da minha cabeça. Não queria mais ficar lendo a mente dos outros. Queria ter só um encontro normal com a garota que gosto tanto. Mas foi justamente por meio dela que cai nessa situação. Engoli a seco, dei um sorriso amarelo e respondi:
- Nada, só umas coisas pessoais...
Ela tocou a minha testa, acariciando-a. Passando a mão pelo meu cabelo e descendo até a orelha.
– Eu sei que você está preocupado, mas não leio mentes – sorriu. – Preciso que você me diga o que está acontecendo. Quem sabe eu não posso te ajudar?
Exalei o ar e relaxei os ombros. Eu tinha de ser franco com ela. Afinal, ela também estava envolvida nisso, quem sabe até mais que eu.
– Mônica, é sobre tudo isso que está acontecendo nos últimos dias. Esse chamado de “Uriel”, esse lance de soldado psíquico do Mike. Nossa, tem tanta coisa estranha acometendo na minha vida que nem sei por onde começar!
Ela sorriu e falou que imaginava que era algo relacionado a isso. Mas me pediu para ser mais específico.
Bem, estudo na Universidade de Serra dos Cristais. Lá tem muitos cursos e uma biblioteca milenar. Fora que lá já foi um mosteiro, e uma conversa que tive com um colega que cursava teologia me deixou um tanto preocupado.
– Bem, a começar por esse anjo chamado Uriel. Na verdade, um suposto arcanjo. Nas escrituras ele não é mencionado. Isso vem da tradição judaica e de alguns textos apócrifos.
Ela olhou para a minha cara com surpresa, e brincou:
– Olha só, não sabia que você era chegado nesse tipo de assunto! Mas continue. Qual seria o problema disso?
– Bem, pelo que li e aprendi por aí, vi que ele é chamado de “face de Deus”, “fogo de Deus” ou “luz de Deus” sendo considerado um dos anjos mais próximo de Deus. Regente do Sol, Anjo da Morte e guardião da chave do inferno. Teoricamente, ele era quem guardava os portões do paraíso com a sua espada flamejante. Sabe quem tem as mesmas características?
Ela apertou os olhos, curiosa, aproximou seu rosto do meu e disse:
– Continue, está ficando interessante. Mas aonde você quer chegar com isso?
Pigarreei, tomei um gole de café e falei:
– Lucifer! Um anjo da luz, uma das primeiras criações divinas, que teria sido lançado a Terra junto com os anjos rebeldes. Ele também se apresenta como um ser de luz e de extrema beleza. Como ele teria entrado no Jardim do Éden para tentar Adão e Eva? O inferno é associado ao fogo, assim como esse tal Uriel e sua espada flamejante. Por que será que seu nome foi censurado? Já pensou nisso?
Ela ficou pensativa por uns instantes, tomou alguns goles de café enquanto lançava um olhar enigmático para mim. Parou, sentiu um pouco do aroma e me respondeu:
– Engraçado. Eu já tive uns sonhos estranhos com Uriel também. Mas já me acostumei com isso. Ele me falou coisas bem íntimas nesses sonhos, mas prefiro achar que são somente sonhos.
– Agora, eu é que fiquei curioso. Que tipo de sonho ou mensagem?
Ela riu um pouco, juntou coragem e começou:
– São flashes. Trechos de uma história, como se fosse um filme cortado. Ela já me contou que já se apaixonou por uma humana, ele desceu à Terra e protegeu a humanidade enquanto Lúcifer iniciou sua rebelião contra o Criador. A guerra entre as falanges espirituais gerava como consequência desastres naturais colossais. Ele fazia o que podia para evitar que vidas humanas fossem ceifadas. Eles tiveram um filho, um Nefilim que viria a se tornar um dos primeiros reis da humanidade. Uriel, sendo dono de enorme sabedoria, ensinou seu filho as artes necessárias para governar e fundar a primeira civilização, ajudando a humanidade no início do seu processo de auto-gestão.
Seu olhar estava vazio, como se estivesse em um tipo de transe parcial, enquanto falava.
– Ele foi quem avisou a Noé sobre o dilúvio. Sabia que não salvaria a carne de seu filho, mas que poderia salvar-lhe o espírito. Você não sabe o amor que esse arcanjo tem pela humanidade! Quando a guerra celestial acabou, Deus iria banir Uriel junto com Lúcifer, por ter descido a terra e ter tido relações com as mulheres humanas. Mas os arcanjos Miguel e Gabriel intercederam por ele por ter protegido a humanidade dos efeitos colaterais da guerra. Daí, Deus baniu Lúcifer para a Terra, criando uma “dimensão paralela” para ele. Quando Lúcifer adentrou o Éden para tentar Eva, não era Uriel quem guardava os portões, era outro anjo, que foi substituído por Uriel por não ter cumprido sua missão. Ele aceitou ser enviado a Terra, não como anjo caído das hordas luciferianas, mas como guardião, ou melhor, carcereiro, de que essas hordas não pudessem sair antes do momento devido.
– E não é só isso – prosseguiu – Ele aceitou esse banimento ou esquecimento, porque, representando o Sol e a luz, tendo ensinado o que ensinou a humanidade, as pessoas estavam o reverenciado como se Deus fosse. Resignou-se, pois outro viria a terra com outra missão: aquele que conhecemos como Cristo.
Ri comigo mesmo. Que papo louco. Poderia estar tendo um encontro romântico agora, mas estou discutindo sobre teologia e a vida dos anjos...
Meu riso fez com que Mônica voltasse a si.
– Chega do mundo espiritual! – Falei quanto lhe acariciava a bochecha e o queixo – vamos aproveitar a vida antes que o mundo se acabe! – ri mais uma vez.
Aquele olhar brilhante voltou. Ela sorriu e me convidou para ir na casa dela para que eu conhecesse as flores do seu jardim.
Observação: Imagem gerada por Inteligência Artificial. Essa pessoa não existe, embora possa probabilisticamente se parecer com alguém real.