Desconhecidos
Todos os dias, ao andar pelas ruas, encontro muitas pessoas. Desconhecidos, que aos montes formam uma multidão de pessoas oz quais nunca criei nenhum laço. Por vezes, posso até lembrar do senhor na cadeira de rodas que todos os dias é levado para a calçada, ficando a olhar a vista da praça. Com certeza, lembrarei do rapaz da padaria que sempre me pergunta: “quantos reais de pão?” lembrarei também dos bêbados, que frequentemente tomavam água ardente naquele mesmo copo transparente e contavam histórias surreais e maravilhosas.
Mas o que importa não é o fato de eu lembrar dos seus rostos ou frases do cotidiano. A pergunta que me faço é: por qual motivo esses que citei continuam desconhecidos para mim? Por que nunca tive interesse em saber sobre eles mais do que a mera aparência visual, auditiva e olfativa, me dizia, na experiência mais superficial? Não sei! Talvez não me fosse útil; talvez eu não tivesse tempo. E aqui novamente, tempo e utilidade, lado a lado, cumprem seu papel de fazer da vida um jogo de perde e ganha.
Além disso, talvez eu também não os tenha conhecido por timidez, mas aí o problema é um pouco mais profundo. No mais, não importa o que me fez ignorar a existência singular destes indivíduos. Não importa a razão de eu tê-los apenas como peças sem uma vida singular, no tabuleiro da existência. O que importa é que eu sou um desses desconhecidos. Para tantos e tantos, eu, com toda a minha individualidade, exalando o que penso ser grande complexidade, não passo de mais um. Para esses, eu serei o desconhecido que cumprimenta ao passar na calçada, o que compra o pão, o que bebe uma dose e em silêncio vai se embora. Serei eu para mim e ninguém para o mundo. Serei, ao mesmo tempo, figurante e protagonista, no campo geral daquilo que é a vida.