Si-nos
Outro dia numa feira de antiguidades encontrei um sino diferente dos sinos habituais, ele era meio achatado.
Perguntei à feirante para que servia e ela me respondeu que se tratava de um sinuelo que servia para colocar em animais para espantar cobras no meio do mato. Ergui na altura do coração e o chacoalhei.
Logo que o pequeno sino soou um ciclista que passava se aproximou e disse:
Isso é um cincerro!
Perguntei para que servia e ele explicou:
- Serve para colocar em animais, de modo que pelo som sabemos onde o bicho se encontra. Coloquei um desses na bicicleta de um amigo que se distrai pelos caminhos.
Depois fiquei pensando se o pequeno sino era cincerro ou sinuelo e descobri que o ciclista estava correto, porque fui pesquisar no Google. Já o sinuelo, descobri, é um animal manso que ajuda conduzir os animais mais selvagens do rebanho. A feirante estava por fora desse mundo rural.
Bem, achei curiosa a confusão dos termos. Para mim era um sino, para a feirante era um sinuelo e para o ciclista era um cincerro.
Revendo os passos: toquei o sino e chamei o ciclista que veio conversar comigo e com a feirante sobre o cincerro e nos contou que o usava na bike do manso ciclista, amigo seu, para que nao se perdesse nas divagações do caminho.
Uma piada, uma afronta colocar um cincerro na sua bike ou uma demonstração de cuidado e carinho?
Você é o sinuelo, é manso, é bobo, vai se distraindo pelo caminho enquanto os outros vão a todo vapor em fila, sem olhar para os lados, produzindo asfalto atrás de asfalto. Andar alienado por aí te traz uma marca, uma marca na forma do soar de um sino. Há pessoas que podem te ouvir mesmo na sua alienação. Quem carrega o cincerro é capaz de sabê-lo?