A COBRA (a pedido da Gio)
_____________A COBRA____________
Bem cedinho, seu Joaquim, lavrador negro de cabelos lisos e finos como os de um índio, toma seu café, empoleirado no rabo do fogão à lenha enquanto conversa com a mulher Constância:
- Tança – diz ele – Hoje cê leva meu armoço no miará do norte, vô dá a segunda capina no milho...
A mulher, atarefada com os afazeres domésticos, apenas assente do fundo da tapera.
Ele desce do fogão, pega o velho chapéu de palha, como num ritual o enfia na cabeça até cobrir totalmente as orelhas, pega a enxada ao lado da velha porta de madeira, e sai.
É uma boa caminhada até ao milharal do norte, mas, para que se preocupar com a distância se há tanto por fazer durante a caminhada?
Nosso homem anda tranqüilamente, mata um besourinho aqui, espanta um passarinho no arrozal acolá, põe sal para a vaquinha logo ali, espanta as borboletas para que não coloquem seus ovos na plantação... É a rotina de um homem do campo!
Finalmente chega ao milharal, o sol já ia alto e Seu Joaquim, ainda se encontrava com a enxada ao ombro.
Nem tinha começado a capina quando sentiu uma cobra lhe pulando nas pernas... por sorte, a danada, conseguiu enfiar seus afiados dentes apenas nas grossas calças de brim que ele usava.
Ele balança vigorosamente a perna para que a bichinha se solte...não soltou! balança de novo... e nada!
Como uma nova sacudida bem mais forte que as duas primeiras, a cobra parece se soltar, porém, faz um barulho estranho, como se armasse um novo bote! Ele sente que algo se agarrou de novo em sua rota calça!
Não vê o bicho mas, já um tanto assustado, joga para o lado a enxada e começa a correr para longe...
A amaldiçoada segue atrás do pobre homem, quanto mais rápido ele corre, mais perto de si ouve o arrastar do bicho!
Já desesperado, opta por subir numa árvore, a coisa sobe também!
Vendo que não adiantava mais fugir, atarantado, pensou:
- Posso até morrê com a picada desta cobra, mas eu mato a bicha também, ora se mato!
Olhou para baixo pronto para descer e...
Qual não foi sua surpresa ao descobrir, agarrada num dos fiapos de sua mulambenta calça, uma folha de milho...
Suspira aliviado, e vai para casa tirar uma soneca, afinal, não é todo dia que uma cobra vira folha de milho!
Imaculada Catarina
(texto da coleção "estórias prá gente miúda que gente grande deve ler")