Perspectivas
tenho a sensação que estou pisando em areia movediça, não importa o quanto eu tente levantar, sou puxado para baixo. meus pés adormecem, sinto um formigamento que atravessa minhas veias e caminha pelo meu corpo. ar puro. preciso de ar. a baixa umidade do clima interrompe meu ciclo de inspiração e expiração. os intervalos se atropelam num ritmo desconhecido e desconfortável. escuto ruídos, são sussurros que se intercalam com o silêncio e a ausência do tempo. sinto que meu corpo é espremido entre duas colunas de pedras que esmagam meus ossos. vísceras saltam, não tenho mais pulmão, fígado, coração. a lamparina que carrego não ilumina em minha volta, tudo é escuridão. mormaço, um ar quente na minha nuca me arrepia. a imobilidade abafa minha voz, estou cada vez mais fundo e parece impossível escapar. tento debater contra a tonelada que me cerca, sou desconfigurado, tenho a mão decepada e a visão retirada. era carnificina. sangue jorra. a liquidez viscosa, rubra e contínua se mistura com a areia. alguma substância se forma. torno-me barro.
uma voz percorre em minha direção, configurada no real. escuto meu nome, me recolho do transe, pego o celular. vejo as fotos.