Sobre a ignorância
Sobre a ignorância
Depois de ter saído da escola, Ronald, pegará o ônibus da linha que passou por ali por volta das dezesseis horas da tarde. Ele estará a caminho de uma cidade vizinha a sua, tabuleiro do norte, cidade a menos de onze quilômetros de Guaraciaba, cidade onde morava. Ele já estará há quatro meses trabalhando em uma empresa de viação. Grande empresa de viação, a maior de todo o Ceará. O proprietário da empresa em que trabalhara, marcou de conversar com ele as cinco da tarde daquele dia.
'Carlos', era o nome do proprietário, falara isso a coordenadora do RH que queria conversar com Ronald sobre sua decisão de não querer viajar, pois, na empresa todos os funcionários viajavam, porque ele não faria o mesmo? Ele não era diferente de qualquer outro funcionário, seu pai trabalhara lá durante quatorze anos, porém, isso não fazia dele especial. Depois de meses passados lá, a idéia de Ronald nunca fora viajar, e sim, ficar no ST (setor de Tráfego). Já falara isso a coordenadora do RH, ao próprio Carlos através de Fábia (a coordenadora), e ele pareceu ter concordado. Até que certo dia, um cobrador ligou para seu pai, "o menino está escalado para viajar amanhã",e esse "amanhã" seria o domingo, dia em que Ronald reservava para dar uma estudada, revisar conteúdos passados na sala. Ele deu a resposta a seu pai "não irei", seu pai não discordou e também não concordou. Na sexta da semana seguinte, Carlos chamou Ronaldo para uma conversa particular.
No último ano do ensino médio, muitos estudantes sonham em ingressar em uma faculdade e talvez realizar seu sonho, com Ronald não era diferente. Sonhava em cursar história e lecionar em alguma escola. Na noite anterior em que fora se encontrar com seu chefe, seus pais conversaram com Ronald sobre o seu encontro com Seu Carlos, seu pai ex-funcionário da empresa, disse-lhe:
-Você não é obrigado a ficar lá, filho. Sabe bem disso, caso não dê certo. Você agradece e vem embora pra casa.— Ele sabia bem disso, mas também sabia que sua família estava passando por uma crise financeira desde a pandemia que houvera e acabara com boa parte da população mundial. Ela não só acabara com as pessoas, mas também com a economia do país. Deixando vários desempregados.
— Comida em casa nunca irá falta. Isso nós garantimos a você. —Falou sua Mãe, com um sorriso no rosto.
Ele já estava pertinho da parada de onde iria ficar, chegou. Um pouco atrasado, pelo fato de ter acontecido algo na rodovia; um motocicleta passou no sinal vermelho e se chocou contra o carro que estava a frente do ônibus em que Ronald pegou. A tragédia foi feia, passou uns dez minutos até o ônibus conseguir passar ao lado do local de onde aconteceu o acidente. Ronald viu a situação do motoqueiro, estava feia. No caminho,Ronald, foi pedindo a Deus para que o homem da motocicleta conseguisse sobreviver.
Ao chegar na parada, ele desceu e seguiu caminho, seu coração estava batendo forte, ele próprio podia sentir as mãos geladas. Chegou a garagem, logo avistou da porta onde ficava os ônibus, a coordenadora do RH que logo que lhe cumprimentou, "Carlos, já está na sala dele a sua espera há 5 minutos", disse ela, "Certo. Obrigado!", respondi.
Fui o mais depressa possível, logo antes de entrar já o vi sentado na sua mesa, escrevendo algo em amontoado de papéis.
— Entre. E sente-se na poltrona — Disse-me ele. Eu o fiz. Sua sala não era muito grande. Estava frio lá dentro. Talvez por conta do ar-condicionado no dezesseis, o clima me fez ficar ainda mais nervoso.
—Boa tarde!
— Qual seu nome mesmo?
— Ronald.
— Muito bem, Ronald. Vejo que você não tem nenhum respeito com o nome que sua mãe ou sei pai lhe deram. Certo? — Ele falou isso enquanto ainda escrevia em algum dos seus papéis sobre a mesa.
— É...
— ... Só um minuto.
— Ok.
— Nossa empresa é muito respeitada por aí a fora, sabe disso?
— Sei, sim, senhor.
— Coisa que aqui não toleramos é a indisciplina. Semana passada coloquei você na escala que viajaria para o Recife. Você com toda a sua falta de responsabilidade, recusou...
— No domingo eu tenho — Interrompi, algo que me fez sentir um arrependimento logo depois.
— ...Ainda não terminei! Como pôde? Aqui não toleramos pessoas assim. Em um vestibular, se você se atrasar por um minuto. Perde a prova. Do mesmo jeito acontece...
— Mas fiz o possível. — Interrompi novamente.
— Não, não o fez! Se tivesse feito estaria aqui no horário que combinamos! — Disse ele olhando para Ronald. Ele tinha algo na sombrancelha que o fazia parecer engraçado. No entanto, naquele momento ele só estava sendo um ignorante filho da mãe. Ronald pensou em contar a ele sobre o acidente, sobre ter que perder uma aula de história, na qual ele precisaria tanto assistir. Porém no que adiantaria? Pessoas ignorantes na maioria das vezes nunca sabem que são ignorantes. Muitas pessoas atribuem a ignorância como falta de estudo, Ronald porém pensava diferente. Ignorância era pra ele a 'falta de sensibilidade ao próximo', algo que Carlos, precisava.
— As vezes por causa de um minuto você perde seu vestibular! Perde uma bolsa! — Continuou. — 'Ronald', esse é o nome que você deve honrar até o final de sua vida. — Concluío para entrar em um outro assunto, mas ainda com o mesmo 'tema' do outro, o seu atraso e blá blá blá.
Foi assim com Ronald até o final da conversar, e em nenhum momento ele tocou no assunto no qual ele o fez chamar a ali. Na hora de sair, Ronald foi até ele, apertou sua mão e agradeceu. Depois de tanta baboseira, não aguentava mais. Quando ia saindo, viu dois cobradores no qual conhecia no ST, porém estava se sentindo tão mal, que resolveu passar direto.
Mandou mensagem pro seu pai, "Alô, pai, já saí. Pode vir me buscar?", três minutos depois seu pai lhe deu o retorno, iria buscá-lo sim. No caminho de volta, já com o seu pai. Ronald foi pensando sobre o quê acontecerá. Como as coisas são. Todavia, pensar naquilo tudo não adiantaria em nada, adiantaria? Achava que não. Chegando em casa estava sua mãe lhe esperando na porta, a expressão no seu rosto era de preocupada.
— E aí, como foi lá? — perguntou sua mãe.
Ronald contou todo o acontecido a eles. No final seu pai ficou pensativo, sua mãe da mesma forma. Droga!, pensou ele. Estava se culpando, achando que a culpa seria dele mesmo, caso tivesse entrado ou pegado outro ônibus, nada daquilo talvez teria acontecido.
— A situação vai melhorar, Ronald. Não se preocupe. Devemos pedir a Deus para que ele sempre coloque o melhor em nossas vidas, e se não deu certo esse emprego pra você, é porque Deus está preparando algo maior! — Falou sua mãe
— Isso mesmo — concordou o pai.
Á noite ficou pensativo, imaginando como uma pessoa pode tê-lo chamado de mimado, mas nasceu em um berço de ouro, como no caso de "Seu" Carlos, por conversar ditas de seu pai a ele, Carlos sempre teve do bom e do melhor, foi seu pai fundador da empresa. Não ele. O sono já havia o tomado conta, dormiu. De manhã acordou sobressaltado, a campanhia tocando várias e várias vezes 'tin-don', 'tin-don", olhou o relógio ao lado da cama, 7:15. Colocou suas sandálias e foi em direção a porta, sua mãe estará dormindo e seu pai tinha saído mais cedo. Abriu a porta e deu de cara com Seu Antônio, amigo de seu pai. Carregava consigo um sorriso agradável no rosto. Falou-lhe:
— Já pensou em trabalhar com óculos?
O coração de Ronald estremeceu, mas dessa vez de felicidade.