O PARADOXO DA VIDA
O PARADOXO DA VIDA
Tudo estava bem...Roberto estava apaixonadíssimo por Ana Paula, os dois formavam um par perfeito.Os pais de Ana Paula, vez por outra olhavam meio de soslaio para Roberto como se estivessem preocupados com ele, fazia três meses que eles haviam se conhecido. Foi em um domingo de páscoa, as pessoas se divertiam e trocavam lisonjas
entre si, reverenciando o clima pascoal... papeis de todos os tipos de bombons sujavam os bancos e ladrilhos, da ornamentada e movimentada praça do marinheiro. Roberto passeava como se fosse mais um dia de rotina de um rapaz solteiro, em busca de um flerte. Ao dar a segunda volta em torno do chafariz iluminado, com suas águas formando desenhos coloridos, com cascatas de jatos intermitentes,que chamavam a atenção de turistas,que vez por outra solicitavam para que ele desse um clique em suas máquinas, para registrar o belo panorama noturno.
Roberto parecia se divertir com aquela situação... foi quando uma bela garota que estava sentada em um banco de madeira, estilo colonial olhava meio perdida para o horizonte como se tivesse hipnotizada pelo clima noturno.Roberto se aproximou daquela garota e notou que seu olhar era triste e vazio, e o mais estranho é que ela não estava com namorado ou com alguém em sua companhia, ele educadamente a cumprimentou e indagou se podia sentar ao seu lado,no que ela imediatamente concordou dando inicio a uma conversa saudável e longa que foi mais ou menos assim:
- Boa noite, posso me sentar um pouco ao seu lado? disse Roberto.
-Boa noite, claro que pode! respondeu ela.
-Meu nome é Roberto, moro há três quadras daqui e sempre costumo vir aqui ver as coisas bela que Deus faz, porém esta noite não pude deixar de vê-la aqui sentada e vim olhar de perto a obra que Deus fez...desculpe-me pela ousadia e sinceridade,mas você é uma maravilha de Deus.
A moça ficou rubra com aquela iniciativa de Roberto e meio desconcertada olhou para ele e respondeu:
-Meu nome é Ana Paula, e moro aqui perto também. Confesso que nunca tinha ouvido uma cantada tão direta e com palavras tão lindas, estou meio que viajando pela surpresa de suas palavras.
-Não é uma cantada...por favor não me leve a mal, é que ao vê-la sentada e solitária meu coração palpitou de forma surpreendente, de repente as palavras surgiram como se fosse um ensaio de uma peça de Shakespeare...compreenda, o que eu falei é a expressão da mais pura verdade, não é um galanteio barato de um conquistador vulgar e inconseqüente.
-Não foi o que eu quis dizer, na realidade eu gostei de ouvir suas palavras.Apenas fiquei surpresa pois são elogios atípicos nestes dias.
Conversaram durante três horas seguidas, tomaram sorvetes e refrigerantes trocaram telefones, ele a acompanhou até sua casa...fez questão de conhecer sua família,mas a moça não quis pois achou ser muito cedo, afinal eles acabaram de se conhecer. Após dez dias de encontros na mesma praça,resolveram ir ao restaurante de comida japonesa.
-Desde quando você é degustador destas especiarias? Indagou Ana Paula
Roberto gentilmente lhe respondeu. -Trabalhei em uma agência de turismo antes de me formar, precisei aprender o segredo de ganhar uma boa gorjeta, que era acompanhá-los e fazer tudo para agradar os gringos.
Ela ficou meio desconcertada quando a garçonete colocou toda parafernália sobre a toalha de seda branca.- não sei usar estes pauzinhos as pessoas vão ficar me olhando.
Ele imediatamente a acalmou e todo cheio de amores lhe disse o que fazer.
-Doçura o nome destes pauzinhos é hashis é o talher japonês...pois na sua cultura os japoneses consideram um ato bárbaro uma faca sobre a mesa,então a maior parte da comida é preparada em pedaços menores prontos para serem pegos e diretamente comidos.
Após jantarem foram para casa de um amigo...e lá se divertiram até as três horas da manhã...Roberto mesmo sendo atencioso e educado, notou que seus amigos olhavam para Ana Paula de forma diferente...e ela mesmo evitava algumas pessoas com a desculpa que já às conhecia da faculdade.
Ele a levou em casa e despediram-se com um longo e apaixonado beijo...as mãos de Roberto começaram a fazer caricias mais ousadas, tocaram os mamilos o ventre as costas e nádegas, deixando a moça com a respiração ofegante e correspondendo as caricias d rapaz. Quando ele tentou acariciar sua genitália ela imediatamente afastou-se dos seus braços e disse: - até amanhã meu amor.
Ele foi para sua casa com o pensamento meio desconcertado...pois já faziam dois meses e ela não lhe apresentava sua família, não lhe deixava tocar nas suas partes intimas...o que para Roberto era um ato normal, trocar caricias intimas apimenta o relacionamento entre um casal. Ao chegar ao trabalho os amigos da noitada anterior lhe olhavam de forma desconfiada, o que muito lhe incomodou durante o dia...não suportando mais, ele dirigiu-se a mesa do Sérgio, um analista de sistemas da empresa.- Sérgio nós já nos conhecemos há mais de cinco anos, o que é que está havendo com vocês em relação a mim? Ontem estavam todos festejando o aniversário de casamento do Erick e Mayara, e hoje pareço até que sou uma aberração da natureza! Todos me olham e baixam a cabeça já estou ficando irritado e preocupado com esta atitude de vocês. Sérgio então respondeu:
-Meu amigo todos nós estamos de veras preocupados com você, ontem quando você chegou você estava muito feliz, e nós há tempos que não lhe víamos daquele jeito, falando em noivar e casar, pois tinha encontrado a mulher dos seus sonhos etc..muito bem, como gostamos muito de você e admiramos seu esforço laborioso em defender os interesses jurídicos da empresa,ficamos atônitos quando você nos apresentou a Ana Paula.
-Mas eu não entendo a perplexidade de vocês, se gostam mesmo de mim eram para estarem todos felizes com aminha felicidade.
-Ai é que está o elo da questão Roberto...de onde você conhece esta garota? A família dela já conversou com você a respeito da vida dela, seu passado seus namorados os colégios que freqüentou, qual é o comportamento dela na faculdade? Você já a viu comprando lingerie ou absolventes? Converse com ela e os pais dela e você entenderá a razão de nossa preocupação com você,
Roberto saiu mais cedo, foi para casa e seu pensamento era um só. O que estava havendo com a mulher de sua vida?esta indagação martelou sua mente a cada segundo. As 18:30 ele a pegou na saída da faculdade, suas colegas ficaram todas olhando pasmadas, como se não acreditassem que aquele belo rapaz naquela moto possante fosse o namorado da Aninha,como era carinhosamente chamada pelas suas amigas de turma.
Roberto fez questão de entrar na casa da moça, no que ela estranhou pois ele sempre ficava lá fora para poderem se beijarem com maior liberdade. Os pais da moça ficaram meio sem jeito quando ele entrou, olharam desconfiados para a moça que disfarçadamente piscou o olho para a mãe que a acompanhou até o quarto, deixando seu pai a sós com o namorado. Roberto então perguntou ao seu futuro sogro se o restante da família se encontrava em casa, ele gostaria de falar com todos. Seu Temístocles pai de Ana Paula, ficou sem graça e foi chamar o restante da família duas irmãs e um irmão que era o mais velho, já beirava uns quarenta anos. Quando Ana Paula retornou a sala e viu toda família reunida, olhou para Roberto meio preocupada e disse:- que houve meu amor,porque esta cara de preocupado, você está aborrecido com algo?
Roberto então iniciou sua palavra em tom advocatício, como se estivesse no plenário judicial fazendo uma inquirição a testemunhas.
-Boa noite senhoras e senhores aqui presente...hoje está completando três meses que namoro a Ana Paula, desejo ardorosamente me casar com ela...entretanto a atitude de vocês para comigo me despertou curiosidades e anseios, que serão elucidados hoje de forma a não restar mais nenhuma duvida ou verdades ocultas. Meus amigos hoje me lançaram duvidas a respeito do comportamento da Ana Paula....cheguei até a pensar que ela fosse menina de programa...mas não pode ser, sempre a deixo aqui e não a vejo sair sem minha companhia. A minha pergunta é, o que vocês estão me escondendo? Porque nunca me convidaram para entrar na casa de vocês, nunca me ofereceram um cafezinho ou me convidam para participar de um churrasquinho as sextas-feiras?
Dona Elaine mãe de Ana, ficou perplexa com aquele tom de inquirição.Olhava nos olhos de todos e não teve coragem de balbuciar uma palavra, baixou a cabeça e fitou o assoalho, que parecia molhado de tão brilhoso que era. Seus irmãos nada puderam dizer diante da surpreendente situação que Roberto os tinha colocado.Ana por sua vez começou a chorar, então seu Temístocles pigarreou e disse:
-Doutor Roberto,desculpe-nos pela embaraçosa situação que nossa filha lhe colocou,nós também temos grande parcela de culpa, mas compreenda... vocês pareciam tão felizes que não quisemos atrapalhar o relacionamento de vocês,o que foi um erro da parte dela e de nossa parte, afinal de contas, somos os pais dela a família que Deus concedeu a ela para traze-la a este mundo preconceituoso e cheio de infâmias. Eu e minha esposa desejávamos muito ter um filho para completar dois casais.Deus nos atendeu... e há 21 anos atrás nasceu meu pequeno Rodrigo, que ao completar cinco anos de idade começou a querer vestir roupas de meninas e a brincar de bonecas, fazer amizades com as outras meninas. Ficamos preocupados, o levamos nos melhores psicólogos e sexólogos da época, mas tudo que ouvimos foi ou vocês o aceitam como ele é ou o abandonem em alguma instituição de menores órfãos. Estas respostas cortavam nossas almas, sofríamos muito com a mudança comportamental de nosso filho,no entanto resolvemos aceita-lo como ele era, pois ele nunca iria deixar de ser nosso filho. Foi quando há três anos atrás o levamos a paris, onde foi submetido a uma delicada cirurgia para que se transformasse nesta linda mulher que o senhor está vendo a sua frente...nosso filho na verdade é um transexual, o senhor tem todo direito de nos odiar pelo resto da vida...por favor perdoe-nos pela nossa omissão, mas ver nosso filho ou melhor nossa filha feliz é o nosso objetivo de família.
Naquele momento o mundo desabou sobre a cabeça de Roberto,aquela revelação destruiu todos os seus sonhos, a decepção invadiu a sua alma...ele encarou um a um balançou a cabeça de forma negativa e dirigiu-se até Ana Paula, que chorava copiosamente.Segurou seu queixo, secou suas lágrimas,afagou seu cabelo e beijou-lhe a testa em seguida saiu cabisbaixo sem dizer uma só palavra.
Já na rua, Roberto refletiu sobre aqueles três meses que mudaram sua vida...compreendeu porque os olhares maldosos em sua direção, a indiferença de alguns amigos e o meio sorriso de cinismo do porteiro de seu condomínio, todos sabiam menos ele, só restava um caminho a seguir...deletar de sua memória todos os momentos que passara nos últimos três meses. Escreveu uma carta de demissão, deixou na portaria da empresa e desapareceu. Nunca mais ouviram falar do famoso Advogado da Empresa Multinacional instalada naquela cidade. O homem que não perdia uma causa...mas perdeu para seu próprio sentimento. Todos os anos no dia dos namorados aparecem vários outdoors com a seguinte frase: ‘O amor é uma armadilha da natureza para garantir a perpetuação da espécie, não confiem nele’. Ninguém sabe quem manda fazer estes cartazes e distribuir por toda a cidade.
Dez anos depois... apareceu em vários jornais, algumas manchetes sobre um Juiz que estava ficando famoso pelas rigorosas penas aplicadas aos homossexuais e a todas as pessoas que assumiam o comportamento de amar de forma diferente. Dizem as más línguas, que este Juiz é solteirão porque teve um relacionamento amoroso com um homossexual.
Artonilson Macêdo Bezerra