Não me Enfrente – Trovão, O Filho da Tempestade!

11.12.23

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Trovão já era um belo menino de olhos claros e cabelos negros como seu Pai, Ernesto, e de pele rosada como sua mãe, Luzia. Crescia a olhos vistos para os seus oito anos. Era inteligente, esperto e perspicaz, e aprendia com facilidade os tópicos das matérias do curso do 1º. Grau que frequentava. As professoras também gostavam muito dele, pela sua inteligência e serenidade.

Mas, nem tudo corria bem na escola para Trovão, pois alguns meninos, ciumentos por não terem as mesmas aptidões que ele, o importunava pelo seu nome estranho e pela sua serenidade, dizendo que não deveria se chamar assim. Apelidaram-no de “Trovinha”.

Ao passar na escola por alguns desses colegas invejosos, eles falavam em tom jocoso e debochado:

-Lá vem o “Trovinha”, queridinho das professoras! Não é uma gracinha ele?

Trovão não se importava com as palavras ofensivas que lhes dirigiam, pois sabia da sua superioridade como aluno. E também, era ótimo jogador de futebol de salão, sendo o melhor da sua turma.

Haveria na escola naquele semestre, um campeonato interno de futebol entre as classes, que se enfrentariam para definir o campeão daquele ano. Trovão estava um pouco ansioso, pois seus pais iriam assistir às partidas aos sábados na quadra da escola. Queria mostrar-lhes como jogava bem. O torneio começaria no sábado daquela semana. Seu pai perguntou-lhe:

- Como você está para o jogo no sábado meu filho, animado? Soube na escola que joga bem e que é um dos melhores, é verdade? Estou ansioso para ver você jogar?

-Estou tranquilo pai, vais ser mais um jogo, nada mais.

Sua mãe ouvindo a forma e o tom da fala de como respondeu o filho, olhou preocupada para Ernesto, que entendeu a mensagem e completou:

-Querido, o que nos importa é que se empenhe e jogue com vontade e garra, e claro com prazer, pois a vitória é uma consequência. Perder é muito mais difícil, mas mais importante, pois para ganhar tem que saber perder.

-Sim Pai, eu sei.

O sábado do jogo amanheceu ensolarado e quente, mas sem previsão de chuva, pois a quadra da escola não era coberta. Foram os três para o colégio. Trovão seguia preocupado, pressentindo que alguma coisa aconteceria.

Foi se trocar, e no vestiário, encontrou com Felipe, ou “Felipão” um dos meninos que o achacava. Ele era maior e mais forte que Trovão, e ao se cruzarem no corredor, Felipe deu-lhe um forte encontrão com seu ombro, dizendo-lhe intimidativo:

- “Trovinha” queridinho da mamãe e do papai, sabe contra qual time vai jogar? Contra o meu! Vou te marcar e te rachar, vai ver só.

Trovão não se acovardou, mesmo que o seu ombro latejasse de dor, e sorrindo matreiramente respondeu:

-Vamos ver o que acontece.

Chegou a hora do jogo. Eram dez horas da manhã e o céu estava azul anil sem qualquer nuvem. Os times se posicionaram na quadra com “Felipão” e seus companheiros olhando fixo para Trovão. A saída seria para o time de Trovão. O juiz apitou e a partida começou.

Trovão saiu com a bola em direção ao gol, driblou o primeiro oponente e o segundo era “Felipão”, que foi direto ao seu corpo, derrubando-o. O juiz não marcou a falta. Ernesto e Luzia ficaram revoltados com o juiz.

O time de “Felipão” não era ruim, mas Trovão estava nervoso e sempre impedido por “Felipão”, que o marcava como um carrapato, e com muitas faltas que o juiz não apontava. Parecia até que ele jogava para o time de “Felipão”.

O primeiro tempo seguia sem marcador, até que em uma jogada genial de Trovão, que com um pequeno toque na bola encobriu Felipe e virando o seu corpo agilmente chutou a bola antes dela cair no chão, marcando um golaço. A plateia vibrou com a jogada de Trovão.

Ele comemorou pulando e gritando para Felipe indo em direção aos seus pais, abraçando-os alegre. Ao voltar, o juiz lhe deu cartão amarelo, pois não poderia ter saído da quadra para comemorar. Começou a se irritar também com o Juiz.

“Felipão” não perdeu a oportunidade e disse em voz alta, repetindo várias vezes:

-“Trovinha”, filhinho do papai e da mamãe!

Trovão se irritou ainda mais, mas ainda queria fazer mais gols e calar a boca dele no campo. O primeiro tempo terminou com o time de Trovão vencendo por 1 a 0.

O segundo tempo iniciou com “Felipão” seguindo grudado a Trovão, dando-lhe safanões, pisões nos pés, cotoveladas no estômago, enfim todo tipo de agressão, que aos olhos do Juiz eram normais, revoltando a plateia.

Trovão foi se irritando cada vez mais com as violências de “Felipão” e a complacência do Juiz. Seus olhos ficaram vermelhos de raiva, seus dentes cerrados, seus músculos retesados até que ele explodiu em um grito fenomenal e ensurdecedor:

-Não me Enfrenteeeeeeee!

Repentinamente o céu se tornou cinza chumbo sobre a quadra, com trovões e raios eclodindo. O vento forte e tempestuoso obrigou a todos se abrigarem. Então, uma língua da nuvem se formou sobre a cabeça de “Felipão”, despejando uma torrente enorme de água, fixando-o no chão. Este ficou submerso na enxurrada por alguns instantes, quase se afogando. Trovão olhava-o com raiva, despejando-a sobre ele pela tempestade.

Ernesto e Luzia não acreditavam no que presenciavam, pois fazia muitos anos que o mesmo lhes aconteceu, e agora, seu filho era quem podia despertar a tempestade. Ficaram boquiabertos e atônitos com o que viam.

Trovão se recompôs e a chuva parou de chofre. As nuvens se dissiparam e o céu voltou a azular. “Felipão” aos soluços tentou se levantar, mas não conseguiu. Trovão foi até ele e o ajudou.

Carregando seu oponente, disse-lhe em voz baixa:

-Viu por que me chamo Trovão? Sou filho da Tempestade!

** Sequência dos textos “Não me Enfrente”; “Não me Enfrente – Luzia” **

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 11/12/2023
Código do texto: T7951546
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