As duas faces de uma mesma moeda
Euclides foi convidado para um churrasco. Ele está na mesa com dois amigos, que travam uma discussão acalorada sobre suas respectivas posições políticas.
- O que vocês querem é nos entregar de bandeja para a China, - esbraveja um deles. O outro responde, no mesmo tom:
- Coisa nenhuma! Vocês é que querem fazer do Brasil uma colônia a serviço do imperialismo norte-americano.
Euclides acompanha o debate com os cotovelos apoiados na mesa, o queixo repousando sobre uma das mãos. Ele brinca com o resto de bebida no fundo de seu copo, sacodindo levemente e observando a reação do líquido, como se aquilo fosse um tubo de ensaio. Os debatedores, indiferentes a tudo e a todos, continuam:
- Temos que estatizar!
- Não, temos é que privatizar.
- O estado tem que ser mínimo, e se meter o menos possível na vida dos indivíduos!
- Errado, o estado tem que assistir as pessoas!
- Todo pobre é pobre por que é preguiçoso!
- Absurdo! As pessoas são pobres por falta de oportunidade.
Agora, em busca de alguém que chancele suas crenças, voltam-se para Euclides.
- O que você acha, Euclides? – perguntam em coro.
Do alto de seu tédio, ele suspira e responde:
- Acho que vocês dois são muito parecidos.
Ambos ficam ainda mais sobressaltados, e inconformados com tão repugnante constatação, voltam a discutir. Cético, Euclides suspira mais uma vez.