A proteção vem do alto
Chegaram muitos deles, vinham com marretas nas mãos. Aos poucos a capelinha ia sendo descaracterizada. O pároco correu para lá dias antes, cuidou da remoção da principal imagem vinda do estrangeiro, removeu o Santíssimo, a rica cuba de estanho e também o que pôde de ornamentação menor, vinda de Portugal. Algumas senhoras chorosas o acompanhavam nesse trajeto de dor e desamparo, mas o padre, que sabia da transação de desapropriação por alguns contos de reis, as consolava dizendo que iriam preparar uma casa para o Pai ainda maior. Aquele lugar era a fortaleza do povo miúdo, pescadores em sua maioria, homens e mulheres simples, negros ou de origem indígena. Ali diariamente rezavam e pediam por um olhar compassivo do Altíssimo e da Mãe Imaculada. Pediam muito também por proteção.
A derrocada era ininterrupta aos olhos do feitor português. Homem rude, que bradava para aquele que afrouxava seus músculos, entre a fadiga ou certa sensação de pecado quando a cada marretada, destruía um pouco mais da casa de Deus.
Em dias, o largo no topo da rocha estava preparado, blocos de pedras sendo enfileiradas, grades de ferro eram fundidas para aquela grande estrutura que ia surgindo defronte ao mar. Alguns que ali estiveram na demolição da igrejinha, também argamassavam tijolos e pedras daquele imponente edifício que de fato traria a grande proteção.
À postos estariam os homens liderados pelo elegante marechal, encarregados da vigilância militar, a fim de se evitar as possíveis invasões vindas do além-mar; onde pesadas peças de artilharia estariam bem posicionadas, resguardando a Baía de pretensos invasores estrangeiros. E assim aquela cidade em franco crescimento, estaria efetivamente protegida. Com os olhos do alto, estratégicos, sem a necessidade de qualquer fé e oração.
Cláudia Machado