32-Coiseiras de Morro Seco. Palpite.
16- Coiseiras de Morro Seco: Palpite.
Noite da véspera da Roda de São Gonçalo na casa de dona Maria do seu Zé. Dona Maria era do chão do Juazeiro da Bahia, no distrito do Juremal. Sabe? Juremal do doce de leite mais bom de todo o Nordeste. Pois promessa feita a santo São Gonçalo do Amarante de dançar quinze rodas. Povo avisado, povo convidado. Momento de ajeitar as comidas para o almoço, que se tem uma coisa, essa coisa é: dia de roda de São Gonçalo todo aquele que chega já é convidado para o almoço. Então: a noite estava abafada, aquele cheiro forte de caatinga seca. A Qeidy estava na tarefa de rechear maxixes do reino, e rechia com carne moída e leva uma assadeira para o forno, e recheia com frango desfiado e leva ao forno. Bonito de ver aquelas assadeiras cheias de maxixes recheados e assados. A pois que foi num tanto em que ela, a Qeidy, estava sozinha ali na cozinha, atenta ao que fazia e preocupada com umas contas que tinha que pagar, e o pior! Estava sem dinheiro. Assustou! Um vulto ali perto da porta e a voz de dona Sinhá:
-Qeidy amanhã você joga no macaco, menina faz uma fé no macaco...
Qeidy até queimou a ponta do dedo na porta do forno. O vulto sumiu. Olhou as horas: meia noite e quinze. Que doideira de dona Sinhá.
Qeidy, levantou foi é cedo. Correu a casa de dona Maria do seu Zé. Eita que dançar quinze rodas de São Gonçalo é o dia todo. No caminho, passou no Mercado do Bico e no Ponto do Bozó, pegou o último dinheirinho que tinha e jogou no macaco.
E foi dia cheio. Povo, demais da conta, na roda. E foi é muita tarefa. Voltando pra casa, já era a noitinha, passou no Ponto do Bozó de modo a conferir o jogo. Eita! E deu macaco. Contente, ela, encontrou o Ariovaldo, que era o profeta e poeta da vez em Morro Seco, falou:
-Poeta, você não foi a roda de São Gonçalo...
-Oxe! Menina, hoje eu tou é triste...
-Causa de que?
-Eita! Você ta sabendo não? Dona Sinhá morreu...
-Não diga...
-Ontem a meia noite...