Até que a chuva foi mansinha
A chuva protelou um pouco, mas veio sobre nós bem de mansinho. Ficou muito pouco tempo, é verdade, há quem nem a tenha percebido, porém, fez das delas, deixou o seu rastro por onde passou e marcou a sua presença.
Tomara que ela não demore mais tanto assim, tem criança que estava dormindo da última vez que ela compareceu e, hoje, nem conseguiria explicar o que é chuva, pois nunca havia visto e nem teve alguma experiência com o seu desaguar.
No morrinho, ela fez escorrer uma enxurrada enlameada como de costume, a parte mais baixa do arraial ficou bem suja, deu muito trabalho para aquelas famílias que moram por lá; tiveram que limpar os trios, porque, senão, ninguém entrava nem saía de casa.
Ela tombou algumas árvores na sua andança, é claro que não fez isso sozinha, o vento estava bem valente; com certeza, a maior parte dos tombos foi por causa dele. Eu sei, porque, além das árvores, ele andou aprontando com muita gente: destelhou um tanto de casas e carregou muitas roupas que estavam secando em varais e espalhou tudo pra todo lado.
Ah, sabe aquele chapéu de palha do moço lá da esquina, perto da vendinha, ninguém tem notícia dele, o vento levou pra algum lugar, ele sumiu de vista quando já estava numa altura bem acima daquele antigo pé de manhã ubá, parecia até uma juriti-verdadeira.
Pois é, a chuvinha chegou mesmo bem de mansinho e, exatamente por isso, pegou a alguns de surpresa.