Transcrições XXI
Eles ultrapassam a madrugada.
Com seus cachorros, com suas sacolas, com suas solidões.
Em abandono e negação, olhados por um céu que tudo vê.
Cercados pela irrealidade, pelo jugo de uma sociedade nada normal.
Sob o sol e sob a lua, fazem morada.
Correm contra o tempo, talvez sem medo da estrada.
Desbravam um oceano tão vazio, parecem tão mutantes e imortais.
Largaram tudo para seguir a própria sombra.
Quem é o senhor dessa gente? O que os deixa contente?
Será que estão caídos no carrossel da existência ou são alpinistas de um poço sem fim?
Afinal, o que os alimenta?
O que os sacia?
O que os cura?
Ainda existe propósito ou apenas existências vãs?