Ele

Saiu a rua, mas não viu ninguém. Passou lado a lado por inúmeras pessoas. O olho atento na tela do celular. Seus olhos estavam voltados para o mundo virtual, os ouvidos se mantiveram desatentos enquanto atravessava a rua. Não ouviu a buzina do carro, nem o apelo de um transeunte quando gritou: – Olha o carro! Mas afortunadamente o carro se desviou. Continuou seu trajeto desconhecendo a sua sorte. Nascera de novo em seus vinte e três anos.

Um amigo insistentemente o chamou do outro lado da rua, mas nem teve nenhuma resposta. A partir daí se esqueceu de entrar no supermercado. Voltou à casa, foi direto ao quarto e quando a mãe perguntou pelas compras, ficou uns instantes a observá-la até que se lembrou que saíra para fazer compra e não comprara nada. A mãe confiscou o celular.

Saiu novamente na intenção de ir ao supermercado. Levou um livro. Andava há muito tempo querendo continuar a leitura de suspense interrompida há alguns dias. Mais uma vez não viu ninguém. Nem mesmo notou a presença daquela moça que há muito se dizia apaixonado. Ficou mergulhado na leitura fluida do livro.

Não notou sequer a debandada de pessoas que fugiam de uma nuvem de abelhas.

Enfim só voltou a si e ao mudo quando se viu abaixo do nível da rua. Caíra em um buraco e viu logo acima a figura de alguém que se assemelhava a um anjo.