Bebida de Criança, Bebida de Homem!

06.12.23

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Reavivaram agora a pequenina garrafa plástica de Coca-Cola . Ela já existia na minha época de colegial e era de vidro. Não havia as de litro, litro e meio e dois litros como hoje , somente esta pequena e a de 290ml, as duas em vidro . Ao olhar para o seu formato característico, veio-me à memoria a lanchonete que havia no colégio, embaixo das lajes das salas de aula. Era o local do recreio, um amplo espaço coberto como uma garagem, com os pilares alinhados e emoldurados por bancos.

Seu Mário, sua mulher, seu genro e sua filha a exploravam. Ele era mais velho, de bigodinhos a “Clark Gable”, moda na época, cabelos grisalhos penteados para trás com fixador, avental branco, jeito bonachão de sotaque português. Atendia-nos pelo nome com sua fala macia e fazia um misto quente delicioso. Acho que o melhor que já comi até hoje.

Junto à chapa observava-o preparando o sanduíche. Colocava cuidadosamente generosas fatias de presunto e queijo prato com um pouco de orégano; o pão francês ao lado, cortado ao meio, esquentava no calor. O cheiro era envolvente, inebriante.

Com o lanche nas mãos, sentava-me em um dos bancos e o saboreava com vagar para que demorasse a acabar, acompanhado de uma “coquinha” geladinha. Bebia-a ao goles no gargalo sentindo as bolhas de gás, na boca e garganta, dando aquela sensação de prazer. Depois, como sobremesa comia uma “lajotinha” da Kopenhagen. Tempos deliciosos!

Absorto nestas reminiscências, fui bebendo a pequena coca em um inseparável copo com gelo e rodelas de limão, liberando o gás na minha boca e garganta como naquele tempo juvenil. Estalei a língua de prazer ao terminá-la. Bebida viciante.

Lembrei-me também da “caçulinha” , a garrafinha de guaraná da Antártica, concorrente da Coca; da “Cerejinha”, de cereja; da Grapette, de uva; todas em garrafas de vidro. Mas a “coquinha” era insuperável para mim. Não havia ainda as embalagens em latinhas ou em material plástico como hoje. O sabor era mais gostoso.

Beber Coca-Cola era caro naquele tempo. Em casa, bebíamos somente em ocasiões muito especiais. Então ao ver na porta da geladeira as garrafas com seu líquido cor de café gelando, sabia que haveria algum evento . Alegrava-me.

Também a bebíamos nos almoços de domingo na casa do meu tio, irmão do meu pai. E claro, nas festas de aniversário dos amigos e da família. Hoje, pode-se tomar a qualquer hora e é barato. Os tempos vão mudando os hábitos.

Veio-me também à memória o meu querido amigo Ricardo, apelidado de Alemão, e viciado em Coca-Cola. Tinha cabelos loiros lisos, olhos claros, estatura elevada e pele branca como neve. Mas, em uma viagem que fizemos de carona para o Nordeste, depois de prestarmos o vestibular, fomos em um bar em Fortaleza comemorar nossa entrada na faculdade. Ele tomava a sua inseparável Coca e nós, cerveja. Éramos ele, eu e mais dois amigos. Experimentou a nossa bebida, depois de tanto "enchermos sua paciência" para que tomasse “bebida de homem”. Ficou viciado, alcoólatra falecendo anos depois por isso. Triste lembrança. Gostava dele.

A garrafinha vazia em cima da mesa levou-me aos tempos nostálgicos da “coquinha”. Hoje, eu também só bebo esse refrigerante - bebida de criança - e não mais bebidas alcoólicas - bebida de homem.

Os hábitos mudam ao longo da nossa vida.

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 07/12/2023
Reeditado em 07/12/2023
Código do texto: T7948843
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