Destino

Tudo tinha acontecido tão depressa que mal me dei conta do que estava a minha frente. A cena, os gritos, os choros. Minhas pernas tremiam na hora, senti como se um água fervente tivesse descido do meu estômago para os pés. Era minha filha que estava ali, jogada ao chão sangrando. Minha filha, Júlia, de 13 anos. Um ônibus a tinha pego de surpresa quando a entreguei a Clara, minha vizinha, pra ir ao encontro de meu outro filho, Adriano que estava vindo nesse mesmo ônibus que atropelou minha filha. Ela fugiu das mãos de Clara, antes mesmo que ela se desse conta disso. Infelizmente foi tarde, o ônibus a pegou. Só precisou a lateral direita da frente bater para a tragédia ter ocorrido. O motorista imediatamente desceu do ônibus, sem acreditar no que estava havendo. Um carro preto aproximou-se e o motorista rapidamente ofereceu ajuda pra levar Júlia ao hospital mais próximo.

Ao chegar lá não autorizaram que eu entrasse no pronto Socorro com ela, disseram que não seria o melhor pra mim. Lutei e relutei para que deixassem, no entanto, nada adiantou. Fui-me sentar perto de um banco da sala de onde entraram com minha filha. No mesmo momento desabei em lágrimas, aquilo não estava acontecendo, meu Deus! Não estava, por favor alguém me acorda, alguém me acorda desse pesadelo! Várias pessoas se aglomeraram ao meu redor, meus familiares estavam chegando aos monte no hospital, primos que já fazia tempo que não via mais, tias, tios. Uma dor de cabeça terrível começou a me tirar o sossego. Olhei o celular, várias ligações e mensagens perdidas, a última mensagem enviada era da minha amiga, Bernada, perguntando como aquilo aconteceu. Mas eu não estava bem o suficiente para responder, não queria falar com ninguém, não queria ver ninguém, só queria minha filha bem de volta novamente. Ouvi uma voz em meio aquela multidão de pessoas ali, voz essa que eu já tinha escutado a pouco tempo:

- Eu sinto muito, o ônibus estava... E eu não pude - Ele mal falava, as lágrimas e os choros não deixavam. Eu sinceramente não sabia o que dizer a ele, não sei se sentia raiva, pena ou qualquer outro sentimento. Inusitadamente ele se jogou no chão e começou a chorar sobre meus pés. Eu, depois de tê-lo visto, abaixei a cabeça de volta entre meus joelhos e tapei os ouvidos.

Entre tantas dores que já passei na minha vida, desde a morte da minha mãe, essa tinha sido a pior. Poderia existir uma dor maior que aquela? Não importava o que os meus amigos, minha família dissessem sobre Júlia; que ela iria ficar bem. Eu sabia que ela não iria, talvez até quisesse mentir para mim mesmo, mas a realidade me dilacerava feito um leão lacerando sua presa. Como estava demorando! A cada minuto que se passava, meus pensamentos torturavam-me mais e mais.

-Juliana, se acalma, mulher. Deus irá agir através das mãos dos médicos e eles salvaram a vida de Julia. - disse minha tia Bernada, que acabara de chegar . Mas onde estava Deus quando quando Júlia foi atropelada?

Depois de mais de meia hora, o médico cirurgião geral saiu da sua sala, a sala de onde estava com a minha filha. Era um homem alto, magro, com uma camisa social azul bebê por baixo do jaleco. Veio me dar a notícia.

Henrique Freire
Enviado por Henrique Freire em 06/12/2023
Reeditado em 06/12/2023
Código do texto: T7948238
Classificação de conteúdo: seguro