A DUREZA DO PRÉLIO
A DUREZA DO PRÉLIO
A Rua Anápolis , no Parque Industrial em São José dos Campos, ainda era de terra na década de setenta. Para ali mudaram-se os avós maternos e, as visitas, também vindas de Minas faziam-se na espera de uma boda.
Enquanto chutavam uma bola nesta rua, as estratégias do jogo eram praticadas. Em uma delas o Tio Alcides, fanático torcedor do Palmeiras, achou tempo no intervalo da partida para fazer uma promessa ao menino visitante:
- Vou te dar uma camisa dos Palmeiras.
O menino anotou aquele elogio, a jogada funcionou, o lance foi gol.
Vinham os irmãos visitantes de Dores de Campos, depois de Barbacena, depois de Barroso... para o casamento da Tia Marlene, ou da Tia Teresa.
Lá nas Geraes, na cidade do couro, o trabalho das crianças era tecer os bacheiros para bolsas, ou prender na tala o couro antes de costurar com a linha encerada, os arreios. No Vale do Paraíba a tarefa passou a ser separar as tiras das sandálias havaianas, modeladas atadas umas nas outras. A cada cem tirava-se cinco cruzeiros.
Eis que tempos depois o ocaso levou o Tio Alcides deste mundo dos viventes. A notícia chegou até Minas e...a lembrança da promessa veio à tona.
- Mas como ele pode ter ido sem cumprir o prometido?!
Juntou os seus trocados, presente dos avós, adicionou suas economias das tiras, dos bacheiros, da venda de papelões no ferro velho e comprou sua camisa alviverde.
O primeiro sudário não foi do Atlético ou do Cruzeiro; primeiro abadá não seria do Bahia ou do Vitória.
A lembrança que permanece entretetanto, entre entretantos títulos e ocasos, é a de dias glória!