A DEMOLIÇÃO

Tudo aconteceu de repente, num estalo de tempo, ninguém pôde fazer nada, estava tudo acabado, no chão, sobravam apenas memórias e entulho.

Um homem que fez o maternal, há cinquenta anos, naquela escola chorava, um outro que tinha o filho estudando ali reclamava, uma mulher que, além de ter estudado, tinha dois filhos estudando ali, estava indignada com aquilo que via. Um absurdo imenso, um prédio com tanta história indo abaixo daquela maneira rápida. Dará lugar a um prédio moderno, sem graça, como são todos, alto e cheio de apartamentos. E assim a história do bairro ia ficando para trás.

Mas as pessoas resolveram protestar, mesmo sabendo que nada mais podia ser feito, reclamaram, gritaram palavras de ordem e mostraram cartazes, veio a imprensa local, deram entrevistas, um ou outro vereador apareceu para dar "apoio" e garantir alguns votos na eleição que se aproximava. Assim acabou aquele dia e toda indignação.

No dia do lançamento das vendas do empreendimento muitos dos que protestaram estavam lá, esperavam poder comprar um apartamento, ou uma loja, queriam investir seu dinheiro em um empreendimento que ia se valorizar muito. Já haviam esquecido de toda aquela história do prédio antigo, que foi convento, depois escola infantil, depois escola de música e agora era um terreno cercado de tapumes, todo esburacado para receber a base da obra, onde em breve, coisa de um ano ou dois, seriam entregues os novos imóveis... E assim a vida segue seu rumo...

Celso Ciampi
Enviado por Celso Ciampi em 05/12/2023
Código do texto: T7947407
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