O Cheiro da Adolescência

30.11.23

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Estou com o cheiro da minha adolescência. Sinto-me como naquela época, puro e ingênuo. O que um perfume nos faz sentir. Comprei-o depois de muitos anos esquecido. Lembrei-me dele agora por pura nostalgia. Fiquei feliz em obtê-lo, como uma criança.

Ao sentir novamente sua inesquecível fragrância entrando por minhas narinas e subindo ao meu cérebro, embebedando-me deliciosamente, fez-me voltar à época da minha adolescência, quando o mundo começava a desvendar-se para mim.

Foi a época da transição entre o menino e o homem, de deixar as calças curtas e começar a usar as compridas, de me interessar pelas meninas, de vestir-me e perfumar-me para elas.

Época dos bailinhos nas garagens com luz negra, de beber “cubalibre”, de dançar de rosto colado sentido o toque da pele e do corpo dela no meu, do seu perfume, e do meu.

Época do primeiro amor, do primeiro beijo, da primeira paixão, dos namoricos na saída da escola, dos beijos e abraços nas sessões de cinema. A vida ainda era uma longa estrada a caminhar, sem fim ou temor. Era fácil ser feliz. E, eu era!

Também, de assistir ao meu pai se vestindo pela manhã para ir ao trabalho, com seus ternos bem cortados, sapatos de cromo alemão, camisas em linho branquíssimas muito bem passadas por minha mãe, dando o nó na gravata com familiaridade e destreza, e vestido, passar um pouco deste perfume em suas mãos e esfregá-las no rosto. O cheiro cítrico e almiscarado flutuava no ar. Conquistou-me, e comecei a usá-lo também, fazendo com que ele me desse um frasco em forma de pinha do mesmo perfume em meu aniversário, dizendo-me:

-Agora tem o seu!

Usava-o sempre e gostava do seu cheiro impregnado na minha pele que durava todo o dia, às vezes até o dia seguinte. Seu frescor e intensidade acalmavam-me.

Segui o meu rumo, com novas facetas e cheiros, esquecendo-me totalmente daquele que, ao usá-lo, fazia-me sentir adulto.

Mas agora, com muitos anos vividos e retornando o uso desta antiga fragrância tão significativa na minha vida, sinto-me rejuvenescido com todas as imagens que me vêm à memoria, reavivando as deliciosas sensações daqueles inesquecíveis tempos juvenis.

O que um perfume nos traz!

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 30/11/2023
Reeditado em 30/11/2023
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