Lady Laura prostituta no INSS
Em uma determinada manhã, presenciei uma cena inusitada e ao mesmo tempo comovente no prédio do INSS. Era a vez de uma mulher de 60 anos, que sofria de surdez e falava alto. Provavelmente, sua perda de audição ocorreu ao longo dos anos de trabalho. Ela expressava suas palavras em alto e bom som.
Ao ser atendida por uma funcionária, ela afirmou, com convicção, que gostaria de se aposentar. A funcionária lhe pediu então o nome, ao que a mulher gargalhou de forma tão alta que chamou atenção de todos ao redor. E, num tom de voz elevado, ela respondeu: "Quer realmente saber meu nome? Meu nome de trabalho é Ledy Laura, o meu nome de verdade é Eudora Mel Picanço, sou prostituta há 45 anos. Ajudei a criar três filhos, mas nunca souberam quem era o pai".
A funcionária riu e insistiu em saber os documentos que comprovassem sua contribuição, mas a mulher interrompeu, pedindo para que a chamassem de Lady Laura. Para ela, esse era um nome mais familiar, e foi assim que ela conseguiu sobreviver. Ela transformou seu corpo em um meio de subsistência. E, com um certo sarcasmo, perguntou à funcionária se ela era casada.
Enquanto a funcionária se ocupava em verificar os documentos, Lady Laura continuava a compartilhar suas histórias e opiniões. Segundo ela, as prostitutas são vítimas de discriminação e violência, mas essa é apenas mais uma profissão como qualquer outra. Ela revelou que na Europa há 75 mil prostitutas brasileiras, enquanto no Brasil são mais de 110 mil. Essa quantidade de mulheres poderia eleger vereadoras e deputadas, brincou ela, acrescentando que os homens no poder são mais "prostitutos" do que elas. Todos naquela altura riam.
A medida que Lady Laura falava, as pessoas ao redor riam mais e mais. Quanto mais riam, mais ela se fortalecia, sentindo-se a dona do pedaço. Ela afirmou que diversos políticos, juízes, empresários, médicos e advogados já estiveram em suas mãos. Dando ênfase à sua história, ela se divertia com suas palavras, tornando-se o centro das atenções.
Quando finalmente saiu do INSS, Lady Laura deixou seu cartão de visita nas mãos de todos. Para ela, a propaganda era a alma do negócio. Contudo, o mais interessante era a frase escrita no cartão: "Se você não gostar do meu serviço hoje, você tem direito a pedir reembolso".
Essa história nos faz refletir sobre a falta de reconhecimento e regulamentação da profissão de prostituta no Brasil. Enquanto muitos indivíduos têm preconceitos e julgamentos em relação a essas mulheres, é importante lembrar que elas são trabalhadoras e merecem respeito e dignidade. Cabe à sociedade repensar sua posição e buscar formas de oferecer apoio e proteção a essas profissionais, garantindo assim seus direitos e bem-estar.