Exercício de Escrita I

Não lhe prometeu nada. Nem o céu e nem o inferno. No entanto, certo de que poderia conquistá-la com sua lábia apenas, seguiu pelo caminho, sem levar sequer um buquê de flores, para lhe pedir em namoro, conforme planejou durante todo dia e desde o momento em que a viu na padaria, comprando pão de sal

“Bem branquinho, viu”

Ela não o viu. Passou reto para o caixa e pagou, saindo rápido para fugir da chuva de inverno. Não estava ciente da impressão que causou ao seu coração romântico e muito menos se deu conta de que ele, embasbacado, a observava a ponto de não perceber que era o próximo na fila, causando um pequeno alvoroço. Seguia com suas mãos nos bolsos da calça jeans, andando bem devagar para dar tempo pensar no que diria. O que, afinal, iria dizer para justificar aparecer, repentinamente, na porta da sua casa, se mal a conhecia de fato? Não era, todavia, como se fossem completos estranhos. Depois da padaria, ele a vira outras vezes. Sempre alheia, sempre tímida, sempre andando ou fugindo da chuva. Alguma vez teve coragem de se aproximar.

“Oi”

“Oi”

“Eu sou Valter”

“Andreia”

Andreia, esse era o nome. Em outra ocasião, descobriu seu endereço, bem por acaso. Estava em um táxi e passou por uma rua em que não costumava ir, a não ser nesses momentos, quando o taxista resolvia tomar algum desvio para fugir do engarrafamento da Orla, pela manhã. Ela estava com uma sacola de mercado, abrindo um portão de ferro e enchotando um cachorro. Então, ela morava nas redondezas de seu condomínio. Em outra ocasião, se bateram, novamente, na padaria. Ela acenou e ele correspondeu com um sorriso empolgado. Depois disso, não sabia ao certo se a encontrava por pura coincidência ou se virara um maníaco a ponto de estar só onde sabia que ela estaria. Foi pensando nisso até chegar ao portão preto e bater palmas para chamar alguém. Um homem botou a cabeça para o lado de fora, esgueirando.

“Pois não”

“Andreia está?”

“Quem quer saber?”

“Sou Valter, um amigo”

“Hum”

O homem fechou a brecha da porta e sumiu. Valter ficou parado, preocupado de que pudesse estar fazendo papel de bobo, sendo um completo idiota, arriscado uma vergonha sem necessidade. De repente, Andreia apareceu e franziu o cenho.

“Oi”

“Oi”

“Está me procurando?”

“Sim, é que…”

“Meu marido precisa de mim lá dentro, então se não for nada muito importante…”

Valter suspirou. De repente, as mãos nos bolsos caíram nas laterais do corpo. Sorriu.

“Não é nada demais, é que…você nunca mais apareceu na padaria.”

“Ah, sim. Estamos de dieta e decidimos parar com o pão”

“Claro, claro…”

“Obrigada por se preocupar”

“De nada”

Ela voltou para dentro e ele, sem reação imediata, prometeu a si que também faria dieta, afinal o excesso de pão lhe deixou imprudente.