Patrão

— Não vai acreditar, na história que vou contar.

— O meu atraso virará besteira.

— Patrão!

— Antes do galo cantar, estava no coletivo no caminho para cá

— Uma belezura de mineira, subiu no ponto da feira.

— O pasteleiro, se queimou, o verdureiro, se cortou e o fruteiro, a fruta derrubou.

— Tudo para ver, a moça de vestidinho florido, com sotaque sortido e sorriso tímido.

— Ah, Patrão, meu patrão!

— Toda reta, virou curva para o Busão.

— Irritado estava o marido daquele mulherão.

— Ih, Doutor Patrão!

— Na catraca pecadora, o tique nervoso do cobrador foi sem cerimônia

— O olho piscou tantas vezes, que o trocador quase desmaiou.

— E o marido não aceitou.

— O pau quebrou.

— Virou caso de polícia, foi todo mundo para a delegacia.

— No distrito policial, a balbúrdia era infinita.

— A delegada para o alto atirou e quando todo mundo aquetou: a mineira beijava o cobrador.

— O corno do marido foi contido.

— Patrão!

— A história acabou de um jeito esquisito.

— No final, o cobrador beijoqueiro, com tique-tique nervoso, estava zen, enquanto o motorista parecia que foi atropelado por um trem!

— Patrão, pode confirmar a história com o Abreu, só não fala quem contou.

— Porque se o Abreu vier perguntar, não vou confirmar. Sabe como é né, doutor, se não foi o Abreu, não direi que fui eu.