"Quem Não Se Comunica..."
Júlio, um rapagão de 30 anos, solteiríssimo, era promotor de justiça numa das Varas de Família do Rio de Janeiro. A juíza, Dra. Lorena, era uma mulher de 35 anos, divorciada, uma morenaça de olhos cor de mel, com seios e pernas capazes de desassossegar a cabeça de muito sensato cidadão. Nas horas vagas, costumavam conversar bastante. Trivialidades e algumas pequenas confidências. Ele sabia que ela era severa com os conquistadores de plantão, os que rezavam pela “cartilha de múltiplas escolhas”, enfim, aquela mulher só iria para a cama com um homem que tivesse muitas mais coisas do que uma boa aparência e um pênis.
Ela, por seu turno, sabia que aquele homenzarrão vistoso, pelo qual as funcionárias da Vara estariam dispostas a ficarem completamente nuas e dançarem em cima de sua mesa de trabalho, era seríssimo, sem vícios e havia rompido recentemente um namoro de dois anos com uma moça carioca da alta sociedade. Motivo: fora visitá-la e ela estava com um grupo de amigos e amigas, usando uma blusinha branca sem sutiã. Sua namorada com os peitos balançando na frente de outros homens? Nem pensar! Por isso, terminara o noivado.
E conversavam muito nas horas vagas. E se olhavam muito nas horas vagas... Até que um dia, depois do expediente, ele convidou:
- Doutora Lorena, que tal um chopezinho refrescante na lanchonete do Tribunal?
- Tudo bem, doutor. Expediente encerrado, vamos!
Desceram pelo elevador, para o subsolo onde ficava a lanchonete do Tribunal. Conversa vai, conversa vem, chope vai, chope vem, e Júlio animou-se:
- Doutora Lorena, permite-me uma observação pessoal?
- Fique à vontade, Dr. Júlio.
- A senhora é uma mulher lindíssima. Não entendo como ainda não se casou de novo. Estarei sendo indiscreto se lhe perguntar se o seu coração está livre?
A juíza encarou-o com um meio sorriso, mas com um olhar severo:
- Estou enganada ou o senhor está me cantando, meu caro promotor?
O promotor Júlio tremeu. Maldição, houvera se enganado redondamente! A mulher não estava na dele. E o que é pior: poderia processá-lo por assédio sexual!
- Não, Dra. Lorena, por favor, não me leve a mal. É que tenho um amigo, gente muito fina, que está interessadíssimo por conhecê-la.
- Amigo, né? Ora, vá pro inferno, Dr. Júlio! - levantou-se e foi embora, com rosto afogueado pela irritação.
O promotor Júlio esperou alguns instantes e afinal, desolado, resolveu ir para a casa. Droga, tinha pago um mico dos diabos! E logo ele, um tímido de carteirinha, que não era dado a cantar nem mesmo uma vadia. Seria melhor pedir transferência de Vara, como poderia encarar de novo com a Dra. Lorena?
No carro, antes de arrancar, a Dra. Lorena, a severa juíza de uma Vara de Família, tremia e se arrepiava de raiva:
- Cretino! Cretino! Pensei que fosse tirar os atrasados hoje e o cara queria era me passar para outro! Ah, promotor boiola, tu me pagas!
Santiago Cabral
facebbok.com/antoniomaria.cabral