O primeiro orgasmo. Quem pode esquecer? É talvez a única sensação efetivamente nova que o nosso organismo incorpora no correr da existência. Todas as outras já estão presentes em nosso sistema neurológico, em maior ou menor grau, desde o momento em que nascemos.

Talvez por isso não sejam tão marcantes. Já o orgasmo é. Aquela sensação eletrizante de que todo o nosso sistema nervoso está sendo gratificado com um prazer indescritível e total é simplesmente inesquecível. É como um choque elétrico que nos provoca  um gozo celestial.

O primeiro esperma expulso pela nossa próstata parece a água que resulta da lavagem do arroz. Depois da segunda ou terceira vez ele engrossa e  fica parecendo iogurte.  Mas isso leva tempo. Quase o tempo que leva para o orgasmo entrar para os temas psicológicos e patológicos e mais ainda, para os teológicos, na cabeça da gente.

Mas a psicologia do orgasmo não me interessa. Por isso não vou falar nada a respeito disso. Tudo que já li a respeito me pareceu coisa da comunidade LBTG. E tudo que consigo pensar é que quem nunca teve um orgasmo não sabe mesmo o que é prazer. Quem elabora teses sobre o orgasmo escreve para justificar seus próprios comportamentos aberrantes. Mas eu não acho que nada que esteja ligado ao sexo seja aberrante. Pelo contrário, tudo nele é normal como comer, beber, mijar, cagar, dormir, enfim, qualquer necessidade que o organismo tem.

Acho que a gente não tem que pensar quando faz sexo. E como penso que um bom exercício sexual ainda é indicativo de boa saúde, poupo-me de qualquer referência que isso possa ter com estados patológicos minimamente aberrantes. Sexo é bom e eu gosto. Quem não gosta, esse sim, é anormal. Sexo é necessidade orgânica. Qualquer coisa além disso é repercussão, não é fato. A cabeça de quem gosta de teorizar sobre sexo é como cabeça de jornalista fofoqueiro. Se preocupa mais com a repercussão do que com o fato.

 

Porém, o que eu não curto mesmo é a questão sexual tratada como tema teológico. Digo isso por causa da culpa que quiseram pôr na minha consciência depois do meu primeiro orgasmo. Só porque ele foi obtido à custa da minha irmã. Digo, sem nenhum constrangimento, que minha irmã foi a primeira mulher de verdade que eu vi pelada. A primeira mulher, pela fresta da porta, a tomar banho. Um corpo, uma bunda, mamilos cuneiformes, com bicos de uma cor indefinível, duros e firmes como um pêssego de bom tamanho, e uma fenda carnuda, encimada por um triângulo de pelos escuros, marcando o local onde um segredo de amor e prazer se escondia, à espera de um descobridor.

Não tinha como não sentir a calça inflar. E não tinha como não mexer no órgão intumescido que pedia uma janela na braguilha para livrar o volume que fora acrescido nele. Essas coisas são automáticas. Instantes de gostosa bolinação. E depois aquela sensação dilacerante, de prazer total, acompanhado por um esguicho de líquido gosmento, que logo seca e gruda na palma da mão como fosse cola.  As pernas tremendo e o coração batendo como um surdo de escola de samba.

 

Sim. Muitas vezes, em imaginação, eu comi a minha irmã. E que ninguém diga que isso é pecado. Pecado é a hipocrisia de quem diz que nunca pensou nisso. E bem que teria feito isso de verdade se ela não tivesse dezenove anos (eu tinha treze), não fosse mais forte que eu e bastante capaz de me capar se eu tentasse qualquer coisa nesse sentido.

Eu nunca tentei consumar meus intentos libidinosos. Por essa e por outras razões. Mas principalmente por causa da teologia. Sim, a tal teologia, que é a mesma coisa que religião, ou vergonha, ou decência, ou qualquer outro constrangimento moral que a sociedade coloca na cabeça da gente para dizer que nós somos feitos à imagem de Deus, e portanto, diferentes dos outros animais.

Uma grande mentira. Em questões de sexo somos tão animais quanto um cão, ou um gato, um galo, que depois de adulto não reconhece mãe, tia, irmã, filha, e traça quem aparecer na frente.

E ele é que está certo. Sexo é instinto. Pois quando a gente reprime os nossos instintos, o que sobra é culpa, estresse, limitação, doenças de um ego reprimido.  Alguém já viu um galo, um cachorro, um gato, precisar de analista?

Já pensaram como seria um galo, deitado no divã de um psiquiatra, confessando sua culpa por ter comido suas irmãs?

 

A culpada de todas as nossas culpas é a Bíblia. Antes da Bíblia, qualquer um podia pegar a própria irmã sem qualquer constrangimento. Os faraós do antigo Egito que o digam. Eles só se casavam com as próprias irmãs. Está certo que os filhos nasciam lesos, epiléticos, idiotizados, abestados e abestalhados, alguns até com chifres e rabos, como diziam os padres medievais, mas o casamento consanguíneo era lei na terra dos faraós.

Claro que isso tinha uma finalidade prática: destinava-se a preservar a herança e o poder na própria família. Os monarcas egípcios sabiam do perigo que representavam os cunhados, os genros e outros agregados por conta de casamentos mal negociados e logo tratavam de alijá-los da sucessão mantendo a herança da família dentro do próprio grupo sanguíneo.

Na Grécia os próprios deuses também costumavam traçar as consanguinias sem nenhum problema. Édipo, por exemplo, pegou a própria mãe. Zeus dormia com a irmã, Hera, Plutão com a sobrinha Perséfone, Electra com o pai, Agamenon e por aí adiante.

Foi a Bíblia inventou que isso era pecado. Mas Freud descobriu que para o nosso inconsciente esse comportamento é tão normal que até faz parte da fauna dos nossos sonhos. Meninos têm desejos inconscientes com suas mães e acordam com o bilau teso; as meninas com seus pais e acordam com a calcinha molhada. Se alguma vez tais desejos vêm à consciência, que é o mesmo que dizer, explode em tesão, então vem a culpa, o sentimento de estar no inferno do pecado, o medo de que o capeta venha buscar a gente, enfim, todas aquelas bobagens que os teólogos botaram na nossa cabeça para fazer com que os homens mantivessem o passarinho preso na gaiola da cueca e as mulheres suas pererecas a salvo no claustro da calcinha e não começassem a fazer farra dentro de casa mesmo.

 

Devia ser assim em Sodoma e Gomorra. Uma suruba geral. Mas Sodoma e Gomorra foi antes da Bíblia. Moisés ainda não tinha nascido para inventar o pecado com aquele seu autoritário Decreto-Lei que foi o Decálogo. Foi ele que inventou esse negócio de que é preciso honrar pai e mãe. Isso é o mesmo que dizer que a rola do pai e a pomba da mãe são sagrados. Por isso é que a gente briga feio quando alguém se refere a eles de forma desrespeitosa. 

Certo que em Sodoma e Gomorra os caras gostavam mais de homens do que de mulheres. Principalmente de mocinhos bonitos. Pedofilismo, boiolismo, lesbianismo, que se resume tudo em uma palavra - sodomia - não são coisas de hoje. Gostar de garoto não é sacanagem moderna, nem privilégio de padre pedófilo.

Mas eu fico pensando como é que as filhas de Lot conseguiram fazer para que o perú do velho papai ficasse no ponto para que elas pudessem sentar-se em cima dele e romper com seus cabaços. Esse é um milagre tão bom quanto transformar água em vinho. Pois o cara já era velho e estava bêbado como um gambá. Eu gostaria de ter um membro assim. A Bíblia é que conta esse lance, não fui eu quem inventou.  Lot não pegou as próprias filhas. As filhas é que pegaram ele. E se a Bíblia pode contar um caso desses, não vou pedir desculpas para ninguém por estar contando o meu.

 

Foi Deus que inventou o incesto e não o Diabo. Pois se a família humana começou com um único casal, como diz a Bíblia, é claro que os primeiros homens tiveram que trepar com as próprias irmãs. E depois a coisa evoluiu para os primos, as primas e assim por diante. Até que a árvore genealógica da humanidade se ramificou tanto, que os vínculos de sangue se diluíram. Os inventores do mito criacionista não devem ter pensado nisso, mas ao divulgar que a família humana começou com um único casal, criaram um grande problema para os teólogos.

Se Deus mudou de ideia depois e achou que um cara comer a irmã era pecado, isso é outra coisa. Mas no começo não tinha como fazer de outro jeito para que a família humana crescesse e se multiplicasse, como Ele mandou que se fizesse.

Afinal, Deus vive mudando de ideia constantemente. Isso porque a cabeça Dele (pelo menos a que conhecemos) é feita das cabeças de todos os teólogos, padres, pastores, mulás, taumaturgos e outros mestres da religião, que acham que sabem o que Ele pensa.

Por mim, se São Tomás de Aquino, Santo Agostinho, Lutero, Maomé, Sidarta Gautama, todos os papas, pastores e demais inventores e propagadores de religiões não tivessem existido seria melhor. E se Freud não tivesse nascido também não teria feito nenhuma falta. Aliás, para quem não sabe, Freud que igualmente era judeu, disse que Moisés e Akhenaton, aquele faraó maluco que inventou a religião de um Deus só eram a mesma pessoa. Com isso descontruiu um mito que o seu próprio povo sempre fez questão de propagar: a de que os israelitas são um povo escolhido por Deus porque foi o primeiro a descobrir que Ele era o único Senhor do universo.

Mas essa tese de Freud faz sentido. O faraó Akhenaton era casado com a própria irmã, Nefertiti, com quem teve três filhos.  Depois que descobriu que Deus era um só e se mostrava aos homens no disco solar, ele fez voto de castidade e nunca mais tocou em mulher.

De Moisés também se registrou o mesmo comportamento. Depois que encontrou Deus no Monte Horeb, ele nunca mais visitou o leito da sua mulher Séfora, que aliás, depois disso virou um conjunto de esferas místicas que alguns rabinos usam para compor a Árvore da Vida. Tudo isso está registrado nos livros sagrados. Não fui eu quem inventou.

 

Agora, minha irmã era a mulher mais bonita que eu já vi. Era um tesão. A primeira mulher que a gente vê pelada sempre é a mais bonita e a mais gostosa. Nunca mais sai do nosso pensamento. Gostaria de ter sido um faraó para poder me casar com ela. E deixar o resto que se “froda”.


PS. Quem me inspirou este texto foi Asmodeus, o mesmo demônio súcubo que ditava textos para Nelson Rodrigues.