Tanque Cheio

18.10.23

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Todas às quartas-feiras vamos a uma feirinha perto da nossa casa comprar frutas e verduras, montada no estacionamento do centro de saúde do bairro.

O pessoal vem de Antônio Carlos. É família de agricultores constituída pelo pai, mãe, três filhos e um sobrinho. Viajam de lá em um caminhão baú. São de descendência alemã. Chegam por volta das quatro horas da manhã e montam a feira.

Algumas frutas e verduras são de produção própria, outras vêm de São Paulo e da região Sul. Vale a pena, pois são de boa qualidade e frescas, e com preço acessível.

Nosso ritual de preparação para a ida consiste em tomarmos café, pegarmos duas caixas de papelão de transporte de mamão “papaia” – as obtemos em um sacolão no norte da ilha, quando vamos lá ver nosso imóvel, e seguirmos de carro para a feirinha.

Dividimos nossas tarefas, pois minha mulher escolhe muito bem as mangas, tangerinas, maçãs, e eu as alfaces, bananas, laranjas lima, por exemplo.

Concluída a escolha das frutas e verduras, levamos as caixas para serem pesadas e pagar. Quem cuida do caixa é a mulher. Deve ter seus cinquenta anos, de cabelos negros começando a grisalhar, usa óculos de grau, o que deixa seus olhos claros pequenos e fundos, e com a fala típica dos catarinenses da serra, meio arrastada e com um pouco de sotaque alemão. Ela, como todos eles, são muito simpáticos, e pela nossa frequência, criamos uma relação amistosa.

Neste dia, fizemos todo o ritual da compra, e ao minha mulher fazer um PIX , mostrando o comprovante de pagamento,

ela disse:

-“Tanqchem” !

-Tanque cheio? – perguntou minha esposa.

-Sim! “Tanqchem” – repetiu.

Eu virei para a nossa amiga e falei:

-Ah! Vai encher o tanque com este valor, entendi – rindo e caminhando para o carro. A alemã riu também.

-Não entendi esta história de tanque cheio, esquisito – questionou minha esposa. Ela ficou com a questão na cabeça.

Semana seguinte, depois de todo o ritual e pagamento, minha mulher, curiosa, perguntou:

-Semana passada ao pagar, você me disse “tanque cheio” e não entendi.

-Ah, eu disse “dankeschön”!

-Ah, obrigado em alemão. Eu não estava entendendo nada, o tanque cheio – rindo as duas, com eu junto ao lado.

Depois, voltando no carro para casa, eu disse:

-E o idoso aqui sou eu, que não escuto direito, né...

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 18/10/2023
Reeditado em 18/10/2023
Código do texto: T7911556
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