Dia 24
Como não tinha família, nem amigos, nem amigas, nem namoradas, nem nada que lhe pudesse servir de companhia, passou todo o santo dia de véspera natalícia a olhar para um livro que teimava em não se deixar arrumar na estante. Mesmo os vizinhos, os desconhecidos vizinhos, não estavam disponíveis para serem observados nos seus afazeres diários.
Naquele dia, o mundo não quis sair à rua.
Não valia a pena tocar no telefone: a agenda não tinha nomes. Escrever? Em certas ocasiões, até os grandes escritores se sentem incomodados com o silêncio. O rádio passava músicas que faziam lembrar pequenas crianças a chorar por prendas. Na televisão, os mesmos filmes de sempre davam vontade de rebentar com tudo.
Depois, havia uma mesa, cheia de chocolates e de rebuçados, só para uma pessoa.