QUANDO CONFIAR NOS OUTROS NEM SEMPRE É BOM!

Minha saudosa mãe sempre foi uma pessoa muito religiosa, confiante a Deus e nos seres humanos, sem exceção, Devido a nossa extrema necessidade material sempre dependia da caridade dos outros, mas só quando deixava a vergonha de lado e pedia alguma ajuda. E vendo o seu filho caçula cada dia mais magrinho, embora não apresentasse sinais de alguma doença , tomou a iniciativa de enviá-lo a algum lugar do interior para passar alguns dias comendo mais do que dispunha em casa, ou seja, quase nada. Neste ínterim, combinou com uma pessoa conhecida que sempre aparecia em dia de feira na nossa pequena cidade, para que eu passasse uns quinze ou vinte dias no interior, para se alimentar melhor. Este era o seu objetivo e que foi ali esclarecido na hora em que fez o pedido para que isto acontecesse. A pessoa se prontificou aceitar a presença do garoto, desde que alguém o levasse lá.

Com a primeira parte do plano já realizada, a minha mãe ficou atenta para quando aparecesse alguém de carro que passasse por aquele lugar onde morava aquela família. E este ficava entre Patos, onde morávamos e Paulistana , outra cidade do Piauí. Até que esta oportunidade chegou. Só que ela jamais imaginaria que aquele senhor, dono do carro, teria duas palavras. Ela explicou o lugar onde ele iria me deixar e ouvi quando ele confirmou que tudo bem, passaria por lá. Ouvindo isto, a minha mãe, num abrir-fechar de olhos arrumou uma sacolinha com poucas mudas de roupa e objetos pessoais e como se fosse uma pequena encomenda me despachou para aquele lugar, com a intenção que eu ganhasse alguns quilos, comendo algo melhor.

Pedi a bênção à minha mãe e ela pediu ao homem que tomasse conta de mim, porém na suas preces me entregou aos desígnios de Deus. Ainda bem. Pois, como diz na Bíblia: "Maldito o homem que confia no próprio homem". Após uma hora, a viagem foi interrompida por motivos de interesses pessoais do dono do carro. Como ele estava fazendo um favor à minha mãe, levando-me de carona e como encontrou naquela parada alguém que, evidentemente tinha dinheiro para lhe pagar a passagem até ao seu verdadeiro destino, ele não pensou duas vezes. Pediu para eu descer e simplesmente mostrar uma estrada de terra ao lado e disse:

Olha, garoto, agora você vai fazer uma caminhada reta até encontrar uma casinha do lado esquerdo da estrada. Chega lá, bate palmas, e dá o recado da sua mãe. É lá que você vai ficar alguns dias, entendeu?

- Sim senhor.

Com a minha sacolinha debaixo do braço comecei a caminhada. Não tinha noção de horas. Mas como o sol bem no alto, tudo indica que seria um pouco mais do meio-dia. Enquanto andava só ouvia alguns cantos de pássaros nos galhos das inúmeras árvores que alardeavam o caminho e nada mais. A minha boa já estava seca de sede e nada de aparecer casa nem de um lado nem de outro. E fui seguindo devagar. Quando o sol já estava mais baixo, como se fosse cinco hora da tarde, eis que avistei uma casinha humilde só que do lado direito da estrada. Pelo que aquele homem tinha falado, ali ainda não seria o meu destino. Mesmo assim tentei me aproximar, apesar do latido de alguns cachorro que ameaçavam avançar sobre mim, mas com a ajuda de uma pessoa que apareceu à janela falou para me aproximar. Primeiro pedir um pouco d'água. Ela olhando com piedade para mim, ao me entregar o copo com água, falou:

- De onde você vem e pra onde vai, garoto? Oh, meu Deus, tão magrinho!

- Venho de Patos e vou passar uns dias numa casa que fica do lado esquerdo desta estrada. Eu vinha de carona, mas o dono do carro mudou de caminho e me deixou lá na última casa, mas não sei o nome do lugar.

- Nossa Mãe do Céu, quanta maldade com uma criança! Só não lhe dou nada pra comer porque não tenho nada. Mas você continua andando que esta casa do lado direito não está muito longe não. Vai com Deus, meu filho!

Muita bondade daquela pessoa falar que não estava muito longe. O certo é que quando já estava escurecendo avistei a tal casa do lado esquerdo e aqui fui acolhido e logo, percebendo a minha fome, uma comida me foi servida e logo depois agarrei no sono. Cansado não, exausto!

No dia seguinte, depois de saber da minha história, o dono da casa só não prometeu vingança para o dono daquele carro que havia prometido à minha mãe me deixar ali, porém o xingou com muitas palavras feias. O certo foi que fiquei naquela casa uns quinze dias e me trataram como um parente. Procurava me alimentar com o que me era servido. Agora alguém pergunta: "engordou quantos quilos?". Pra começo de assunto, se eu subisse numa balança o ponteiro não oscilaria quase nada. Quem magro nasceu, magro continua. O importante é a saúde.

Apesar de ser muito beata, a minha mãe quando ficou sabendo o desenrolar daquela minha aventura, fez até questão de não ver mais aquele homem que havia prometido aquela carona. Pois segundo ela, não responderia por suas palavras. A mais suave que ela o chamaria, no mínimo, seria de IRRESPONSÁVEL e sem palavras, interesseiro, malvado etc.

JOBOSCAN
Enviado por JOBOSCAN em 15/09/2023
Reeditado em 15/09/2023
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