Ventura

Vou caminhando sem destino. Eu me pergunto para onde me levam as alamedas. As ruas estão solitárias. Ouço o ruído do cascalho sob meus pés. Um frio envolve meu corpo provocando um arrepio. Visto meu sobretudo e sigo adiante imaginando alguém me esperando em algum lugar, mas não vejo seu rosto. Ouço o farfalhar das folhagens das árvores. Que caminho tomar? Sigo intuições. Quando acordei pela manhã meu olhos estavam secos. Eu decido seguir qualquer caminho. Mas aonde ele vai me levar? Depois da curva me surpreendo com a beleza das flores ornando todas as trilhas. Retiro o casaco e o deixo pela estrada. É sábado, vinte e três de setembro, eu rio e choro, as emoções se misturam. Prossigo em paz. Enfeito meus cabelos com uma grinalda de flores que foram colhidas ao longo do trajeto. Me abaixo sobre a margem do rio e me vislumbro como narciso. Desço uma rua onde encontro fisionomias familiares, eles acenam para mim e eu retribuo com rosas que deixaram marcas em minhas mãos e enfeitaram a vida de quem as recebeu. Subo e desço estradas sinuosas. Procuro onde eu possa refrescar meus pés cansados, fecho os olhos e desejo algo, que subitamente se concretiza, ouço o ribombar de um trovão que vem seguido de pequenas gotas de chuva que vão aos poucos se encorpando até me encharcar pela chuva abundante. Meus pés se refrescam nas poças d'água que se formam ao meu redor. E meu vestido rendado vai se arrastando pela caudalosa enxurrada até encontrar uma mão que se une a minha e juntos seguimos pelas veredas forradas de folhas secas que estralam sob nossos pés. Nossos olhos brilham com tanta intensidade que ofuscam o sol e num impulso somos alçados a atmosfera onde levitamos sobre as pedras íngremes.