O MILIONÁRIO
Então o Gervásio ganhou na loteria, ficou milionário e sumiu. Todo mundo procurava por ele, uns queriam uma grana, outros apenas cumprimentar o amigo e ainda tinham aqueles que estavam querendo um churrasco daqueles, com cerveja, picanha e tudo que tinha direito. Sua casa parecia um santuário dedicado a um santo milagreiro qualquer, tinha gente plantada lá na calçada por dias a fio esperando o Gervásio aparecer, uma loucura.
O tempo foi passando e nada do vizinho rico aparecer, então as pessoas foram sumindo do portão, voltando para suas casas, xingavam o pobre homem, agora milionário. Diziam que ele abandonou os amigos, que tinha arrumado uma gata da Zona Sul e mudou para lá, que viajou para Paris, essas coisas. Teve um, mais chateado, que jogou um tomate estragado e um ovo na fachada da casa, raiva...
Um dia, sem que ninguém mais tivesse prestando atenção, o Gervásio chegou na sua casa, não entendeu nada quando viu o ovo e o tomate que manchavam sua parede, entrou, viu uns vidros quebrados na sala e pensou que teve ladrão na casa, mas, depois de verificar tudo percebeu que nada havia sumido e que não tinham marcas de arrombamento nas portas e nem nas janelas. Foi então que chegou um vizinho, que viu o movimento na casa, e contou o que aconteceu, que algumas pessoas ficaram com raiva dele e jogaram pedras, ovos e tomates na sua casa.
Gervásio contou ao amigo que não tinha nada disso, que nunca jogou na loteria em sua vida, que esteve internado com apendicite e foi operado, estranhou que ninguém foi ao hospital visitá-lo.
Quem sabia disso era o Roberval, dono da Loteria da rua, que ficou incumbido de informar aos vizinhos sobre a situação, mas como o seu negócio estava indo mal das pernas resolveu espalhar essa mentira para atrair clientes, deu certo até aquele dia, pois todo mundo queria jogar na loteria onde um sortudo ganhou o prêmio acumulado sozinho, a fila da fezinha era longa.
Acontece que o povo, quando soube da armação do Roberval, jogou tudo quanto havia de lixo acumulado na rua para dentro da loja dele, e passaram a jogar na Loteria lá do Centro, onde o verdadeiro ganhador fez seu jogo, o mentiroso teve que fechar seu negócio. Nem o bicheiro do bairro deu a Roberval uma banquinha para escrever os jogos, pois sabia que ninguém ia apostar um centavo que fosse nos números da sorte escritos pelo mentiroso. Roberval teve um infarto, está no hospital dizendo que é o dono da Loteria do Centro...