A UTI E EU

A UTI E EU

Por algumas vezes, em função de tratamentos hospitalares fui levado à UTI. A princípio, antes de estrear, achava que seria uma experiência macabra. Gente sofrendo, gritando, apopléticos, surtados e um ou outro óbito, quando a máquina dá aquele sinal contínuo do fim dos sinais vitais.

Nem sei mesmo se é assim que deveria descrever minhas experiências.

Desta feita, entretanto, entrei na UTI no final da tarde de domingo e fui levado a uma cama hospitalar que é confortável para o médico atender o paciente. Para o paciente é um estorvo. O exercício de ir e vir para a cama transforma-se numa hercúlea luta do (a) paciente com os enfermeiros (as) tanto para subir quanto para descer. Uma maratona a repetir-se, a depender do estado de cada um.

Como sou resistente ao sono, passei a observar alguns dos pacientes que me rodeavam. Do lado direito, uma mocinha, do lado esquerdo um cidadão portador de câncer na laringe.

A partir da segunda-feira as visitas eram constantes para alguns dos pacientes e eu mesmo andei recebendo meus filhos e amigos, em visitas rápidas, mas que me davam um certo alívio naquela solidão de olhar para o teto hospitalar o tempo todo e com aquele som constante de um pisca-pisca, vários tocando ao mesmo tempo, alguns mais altos que outros, gerando uma certa agonia aos meus ouvidos. Por algumas vezes argumentei com a equipe se aquilo não podia ser mais sutil, mas ouvi negativamente o meu apelo.

- É assim mesmo, diziam.

Passadas as duas primeiras noites, chegou a quarta-feira e nada de sair minha alta para o quarto. Umas 19,30 hs. Chegou um paciente, aparentemente dormindo e foi colocado do meu lado esquerdo, substituindo o paciente que estava lá quando cheguei e que teve uma crise hemorrágica à tarde, tendo sido levado para a extremidade direita da UTI. Achei até que iriam descontaminar o ambiente, mas isso ocorreu apenas onde o leito estava plantado. Diga-se que os leitos são separados por cortinas de um material plástico espesso, que impede que um paciente veja o outro. Senti aquele cheiro forte de água sanitária, talvez adicionada a outros anti-contaminantes e tudo seguiu em frente.

O paciente que chegara às 19,30 hs. começou a passar muito mal entre 21 e 22 hs. e sua agonia hemorrágica foi até a madrugada, sangue expelido (certamente) pela boca, até seu óbito, umas duas e meia da madrugada. Vários médicos e enfermeiros (as) a tentar frear a sangria, sem sucesso. Uma noite de horrores para eles, e para mim, que não suporto ver sangue!

Finalmente, pela manhã de quinta=feira recebi alta para a transferência para um quarto. E daí em diante as coisas passaram a melhorar, conseguindo a alta para casa, no sábado.

Não vou citar nomes dos pacientes que estiveram internados, alguns dos quais eu conhecia, muito menos da equipe médica que bem me atendeu, pois não é esse o meu propósito.

Na verdade, apenas faço um registro e peço a Deus que visite os leitos dos enfermos mais ou menos graves, e que lhes dê o devido refrigério!

Ricardo De Benedictis
Enviado por Ricardo De Benedictis em 05/09/2023
Código do texto: T7878521
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