O HOMEM NO SOL
O sol estava queimando seu nariz, estava muito forte e não dava trégua, não havia uma mísera sombra para aliviar as queimaduras e o céu estava azul como se fosse pintado numa tela com aquarela, aliás, precisava tomar água, estava seco, debaixo daquele sol inclemente, pensou: "não vou conseguir!".
A cidade estava deserta, também, naquele sol de meio dia, a pino, ninguém com um pouco de juízo poria os pés na rua, só ele, nem os carros estavam circulando, até os pássaros tinham sumido, não ouvia um pio sequer. Continuava sua caminhada, determinado a chegar em algum lugar, tinha hora marcada? Não sei, eu estava de longe observando, com dois ventiladores enormes voltados para mim.
Quem era aquele doido na rua, com aquele calor desesperador? Nunca vou saber, ele tinha alguma coisa na mão, um livro? Uma caixa de bombons? Uma bomba? Acho que delirei...
Ele foi andando o acompanhei até que o perdi de vista, a rua ficou deserta novamente, nenhum carro, nenhuma pessoa, nenhum passarinho, nem o vento ventou naquele dia de intenso calor. Escuro...
Eu, bom, percebi que não estava em casa, não identifiquei onde estava, meio zonzo, olhos turvos. Apareceram umas moças de branco perguntando se estava tudo bem comigo, eu respondi que não sabia, mas achava que sim, falei para elas do homem que estava na rua, talvez ele não estivesse bem, então a moça de branco me disse que era enfermeira e que eu fui encontrado na rua, caído, com um embrulho na mão, estava desidratado. Depois me entregou o embrulho, eu o abri com alguma dificuldade por conta do equipo do soro e da máscara de oxigênio que me puseram e me limitavam os movimentos, tinha um livro dentro dele, não consegui ver o título, só o autor, era Kafka, apaguei de novo... Acordei?