O TROUXA DA TURMA
Eu não acreditei quando a Rosinha me chamou no portão de casa, logo ela me chamando? Não podia ser real, mas a atendi com toda educação e fineza que o momento pedia, afinal a Rosinha era a menina mais bonita da rua, todo mundo queria namorar ela, mas quem disse que ela dava bola para alguém ali? Nem olhava para os moleques. Também uma cambada desarrumada, que só ficava brincando de carrinho e jogando bola, quem ia se interessar? Não a Rosinha, com certeza.
Quando cheguei ao portão, não vou mentir, minhas pernas tremiam feito uma vara verde de bambu. Não sabia o que a Rosinha queria, mas sabia o que eu queria da Rosinha, um beijo e isso me bastava, nunca pensei em namorar ela, nem outra menina. Namoradas são muito enjoadas, não gostam de nada do que gostamos e só querem saber de ir ao cinema, fazer lanche e andar por aí de mãos dadas, tudo coisa sem graça.
Enfim, cumprimentei a menina e perguntei se ela queria entrar, ela disse que falaria no portão mesmo, que o papo seria bem rápido.
E sem demora me convidou para ir ao cinema, eu não gostava daquele troço, coisa chata, escuro, não entendia nada do que aquele povo do filme falava e não conseguia ler as letrinhas embaixo, não entendia nada no fim das contas. Então, não aceitei o convite e inventei qualquer coisa como estar de castigo, eu queria um beijo, na falta dele, estava bom jogar bola com a turma.
Nesse dia o Gutinho não apareceu na quadra, tivemos que arrumar outro goleiro e rachamos na pelada a tarde toda, que maravilha! Mais tarde o Gutinho chegou todo feliz, disse que foi ao cinema com a Rosinha e ele nem sabe qual filme estava passando, ficou o tempo todo beijando ela, e já haviam marcado encontro para um outro dia. Ele ainda contou que a encontrou chorando na praça porque um trouxa havia negado o convite que ela lhe fez de ir ao cinema e que esse trouxa era o menino que ela gostava, daí então resolveu convidá-la para o cinema somente com a intenção de abrandar sua tristeza, e daí foi o que foi... Depois desse dia nunca mais joguei bola, e passei a andar mais arrumadinho, mas a Rosinha nunca mais nem me cumprimentou.