CADA CONTO, UM PONTO
CADA CONTO, UM PONTO
Ricardo De Benedictis
Falando sério, amigos, estive uma semana no leito do hospital e sempre recebia visitas de amigos, mesmo que ligeiras, nos horários disponibilizados, de 11 da manhã e de 5 da tarde. As visitas eram dos filhos que vinham sempre me ver e opinar sobre minha aparência, apesar da quebradeira geral que é o fato de estar preso a um leito hospitalar.
Dentre as visitas de amigos, filhos à parte, um deles quis saber sobre as constantes contações de um conterrâneo que é um poço de boas e hilariantes histórias sobre nossos conterrâneos, nem sempre verdadeiras, muitas tiradas das conversas de adolescentes que incentivados pelos mais experientes, passavam a reverberar seus contos e escolhiam pessoas conhecidas para protagonistas!
Numa dessas ele me perguntou explicitamente sobre um conto dando conta do sumiço de um amigo comum que desaparecera e o contista colocara como autor do seu cárcere privado, outro amigo, por sinal músico e contemporâneo. Eu prontamente lhe disse tratar-se de uma brincadeira sem qualquer maldade.
E agora fico pensando. Não teria eu, sido vítima de tantas novelas em Poções? Claro que sim e não tenho motivos para me aborrecer com os amigos. Se lembraram ou lembram de mim, é sinal de que estive em suas vidas, mesmo que pela enviesada porta da mentirinha. Atribui-se ao contador de histórias que ele sempre põe um ponto no seu conto. Isto quer dizer que quem conta tem o privilégio de dar sua versão dos fatos ali narrados. Se assim não fosse, que graça teria? E quando alguém quer manifestar-se sobre aquela ideia ele costuma dar um pontinho da sua elegância, do seu estilo. É assim que a vida segue seu rumo!
O bom mesmo é o humor que o contista utiliza para adoçar sua narrativa, oferecendo momentos hiláricos ou trágicos a situações nem sempre tão engraçadas assim.