Recordar é viver

Quando se encontraram já não eram os mesmos de quando se conheceram.

O lugar sim era o mesmo. Nada mudava naquela velha cidade do interior onde cresceram juntos. Oito anos distante... Ela ainda ia visitar a família quando podia. Os pais ainda moravam por lá. Já ele havia se mudado junto com a família deixando apenas alguns tios e primos, alem dela. Acontece que seus pais infelizmente morreram tragicamente em um assalto e depois disso ele resolveu se aproximar mais de sua família que havia deixado para traz. Tudo que ele queria quando chegasse era ver como ela estava... E ela sempre sonhava em vê-lo quando voltava pra casa dos pais. E agora lês estavam ali, um de frente pro outro. Analisando e sendo analisado...

Enquanto se olhavam eles sabiam que não eram os mesmos. Oito anos... Parece pouco, mas naquela época eles nada sabiam da vida. Oito anos de pessoas diferentes, interessantes, bonitas, baladas, amadurecimento pessoal, novas responsabilidades, culturas diferentes, pensamentos e interesses diferentes, outros pequenos romances, novos amigos, novas ambições... Oito anos longe um do outro e eles já não se conheciam mais. Para ela, ele ainda a olhava com o mesmo brilho nos olhos, mas fora isso, agora ela via um homem que não tinha mais aquele sorriso de menino. Para ele, ela não devia ter pintado o cabelo, mas o jeitinho meigo e carinhoso, o sorriso, ainda era o mesmo.

Havia tanta história para ser contada... Muita para se esconder também. Detalhes talvez fossem desnecessários. Nunca chegaram a fazer promessa, mas achavam que quando se reencontrassem iriam logo casar. E agora? Nossa... Casar? Logo agora que eles estavam começando a gostar de curtir a vida como se faz hoje em dia. Baladas regadas a bebidas, drogas, orgias... Tem aquela gostosa da academia que ele ainda não pegou. E aquele ricaço do escritório completamente apaixonado por ela... Casar? Mas tem que ser agora? Ele esta juntando o dinheiro pra trocar de carro e ela esta querendo ir para fora do país aprimorar os estudos. Como é que fica os novos planos? Enquanto conversavam o assunto surgiu... Não tinham como fugir daquele sentimento que querendo ou não os acompanhou por estes oito anos que se passaram...

Começaram a recordar dos passeios pelas trilhas perdidas que faziam juntos pelos bosques... Dos finais de semana no sitio. Das brincadeiras inocentes e da primeira vez que se beijaram e se tocaram... Tiveram a primeira vez juntos... A primeira, a segunda, a terceira e por ai vai... Nada como a ingenuidade infantil... Se lembrar de qualquer bom momento de nossa infância nos aproxima da felicidade... Há muito tempo eles não se sentiam felizes dessa maneira. E essas recordações demonstravam a eles o quanto eles estavam distantes de sua essência, distantes de suas raízes. O quanto eles eram felizes com tão poucos recursos, sem os desejos impostos pela cidade grande.

E a felicidade foi tanta que eles resolveram recordar os bons tempos bem próximos um do outro e se sentiram como os adolescentes que eram nesses tempos...

Raphael Campos
Enviado por Raphael Campos em 21/12/2007
Código do texto: T787265
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