Sem rádio e sem notícias

Morávamos numa casa campestre de alvenaria em estilo rústico, mas muito aconchegante. Na parede da copa se via lindas estampas de treze santos diferentes dos quais conhecíamos história e milagres. O terreiro de areia branca era palco dos folguedos, das brincadeiras de roda, e do casamento chinês. No meio do pátio ficava um pé de buganvília cor de rosa pink, plantado com muito carinho por mamãe, ao lado direito, o curral de vacaria e o chiqueiro dos bodes. No quintal se criavam lindas galinhas de penas coloridas. Mamãe dizia: “Elas são lindas! Eu as criava mesmo que só servissem para enfeitar o quintal”.

Nas noites de luar a calçada de nossa casa se enchia de gente: avós, tios, primos e parentes mais distantes vinham conversar, trocar informações e saber das novidades. Naquele tempo, ainda não se tinha rádio nem televisão, as notícias chegavam por carta ou de boca a boca.

O velho relógio de parede de tio Cândido, a menos de 200 metros de nossa casa, pingava as horas pontilhando o tempo, no silêncio e quietude da vida campestre. Vivíamos como dizia Luís Gonzaga: “... sem rádio e sem notícia das terras civilizadas.” Mas éramos felizes porque respirávamos o ar puro da natureza e não se ouvia falar em violência ou droga.

Na época das chuvas o rio Riachão transbordava para, pouco tempo depois, oferecer uma água pura e cristalina. Era raso, por estar perto da nascente e logo após as primeiras enchentes, já se podia ver a areia branca do seu leito e as piabas nadando numa água transparente e sem nenhuma poluição. Não tínhamos brinquedos sofisticados, mas a mãe natureza nos oferecia o lazer. No fim das águas, os bancos de areia enchiam-se de sarça e outras plantas rasteiras. Com os ramos das sarças fazíamos cordas e amarrávamos nas galhas de oiticica para nos balançar. Vivíamos no silêncio e aconchego da paz.

LIMA,Adalberto, SOUSA,Neomísa et al.O Brasil nosso de cada dia.