O Bilhete

Era um dia cinza (e não me refiro ao tempo), daqueles repletos de infortúnios que te fazem perder mais um pouquinho da fé que ainda restou nas pessoas.

Não vou entrar em detalhes aqui (tenho certeza de que você já teve dias assim), mas pode acreditar: tinha sido um dia horrível!

Pra piorar (a cereja podre sobre um bolo de fezes), ao chegar no estacionamento, a lateral do meu carro estava toda amassada, um baita estrago.

Ao rodear o carro avaliando melhor os danos, me deparei com um bilhetinho preso na maçaneta do lado intacto.

É sério, o dia tinha sido tão ruim, mas tão ruim, que a visão daquele papel, que provavelmente continha o número de quem havia batido no meu humilde carrinho sem seguro (para que arcassem com o reparo) me deu um certo reconforto por dentro, e não apenas pela situação em si: ainda havia gente boa no mundo. Gente que erra, mas se desculpa. Que arca com suas responsabilidades. Pessoas que não fogem da realidade, por mais dura que ela seja, e não deixam terceiros pagarem por seus erros.

Acho que estava sorrindo enquanto abria o bilhete, que dizia:

"Desculpe pelo estrago no seu carro, mas não posso me dar ao luxo de pagar por ele. Estou apenas fingindo anotar minhas informações para contato pois as pessoas estão me observando".

FIM

Betaldi
Enviado por Betaldi em 11/08/2023
Código do texto: T7859339
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