O dia em que o Judas não foi malhado
Sabe aqueles dias que nada temos para fazer na vida e como válvula de escape e passamos a pensar no próximo. Aliás, em pesquisa que fiz de ouvindo, escutando os vizinhos, 90% parece a língua da sobra! É falando mal do vizinho da direita; é metendo a boca no da direita, e por aí vai! Bem, mas tem gente, talvez 1%, que fala bem e até caridade não deixa de inventar. Penso que um dia me encaixei nessa minoria. Lá na década de 70, meus amigos de rua estavam preparando um boneco de pano para a conhecida malhação de Judas, Após prepará-lo o colocaram amarrado num poste e se foram para depois surrá-lo na madrugada da Sexta-Feira Santa e a manhã de Sábado de Aleluia. Olhava tudo da varanda de minha casa. Logo me veio a mente em fazer uma boa ação, pois acreditava que o mesmo perdão que Jesus deu na cruz, deve ter sido dado também para Judas. E uma voz ouvi: - Salve essa alma! Olhei de um lado para o outro é até para o céu e não consegui perceber de onde partiu a voz. Talvez da minha imaginação, mas a boa ação me impulsionou a salvar o boneco. O retirei do poste e escondi na garagem de casa. Maldita a hora em que tomei aquela decisão! Feliz, olhei para ele e disse: - Hoje você está perdoado e nunca mais será malhado. Bem, na madrugada da Sexta-Feira Santa, meus amigos chegaram com porretes e...Cadê o boneco! – perguntou um deles. Outro até esbravejou: - Algum pobre coitado, precisando de roupa, o levou. Enfim, todos cabisbaixos voltaram para suas casas. Todo feliz, gritei: - Hoje ele não mais apanha! Infelizmente, a alegria durou pouco. No dia seguinte, seis colegas chegaram para bater uma bolinha na rua e me perguntaram onde estava a bola. Se perceber nas consequências apontei a garagem. Quando ele entrou logo gritou: - Ele é o ladrão do Judas. Enfim, saí mais surrado que o pobre boneco!