Histórias que gosto de contar – Duas grandes amigas
Gilberto Carvalho Pereira – Fortaleza, CE, 1 de agosto de 2023
Naquele dia, em uma reunião regional dos principais assessores de uma empresa para as quais trabalhavam, ao se depararem uma frente à outra, notaram que as feições fisionômicas de ambas, eram bastante semelhantes. Na brincadeira, procuraram investigar por que se pareciam tanto. Nessa pesquisa, ficaram sabendo que nasceram em cidades muito próximas, vinte quilômetros apenas as separavam, tinham a mesma idade, a única diferença que se destacava era a altura. Uma delas media 1,87m e a outra, 1,52m. Resolveram, então, pela certidão de nascimento e de batismo, procurar por mais semelhanças. Suspeitaram que por meio delas descobririam um elo comum às duas.
Ávidas por mais informações procuraram saber o local do cartório onde cada uma fora registrada. Descobriram que a mais alta, nascera no dia 22 de junho de 1960, às 15 horas, tendo como pais Arlindo Fonseca e Maria Isabel Fonseca, na cidade de Cascavel, Ceará. A outra nascera no mesmo dia, na cidade de Beberibe, 30 quilômetros de Cascavel, às 15h45, tendo como pais Carlos Alberto Gomes Lima e Aurélia Gomes de Lima.
Sem muitos esclarecimentos para elucidar o que estavam procurando, resolveram ir às Igrejas locais, procurar nas certidões de batismos, e completar as informações. Os assentamentos eram os mesmos da certidão de nascimento, como o nome de quem foi batizado, data, nome completo da igreja, mês e ano, endereço e assinatura do padre. Essas informações em nada acrescentaram, às suas dúvidas.
A hipótese levantada pelas garotas era que tinham nascido em alguma cidade próxima, ou entre as duas, e levadas para serem registradas nas respectivas cidades constantes das certidões. Como não havia nenhum registro indicando terem nascido em hospital, entraram em campo à procura de parteiras que assistiam partos nas respectivas cidades, e no período indicado nos registros de nascimento.
Na cidade de Cascavel, verificaram e obtiveram o endereço de duas mulheres que tinham essa função social. A dona Maria das Dores, conhecida por dona Maria dos Milagres, nenhuma criança havia morrido em suas mãos, era a informação mais alentadora. Munidas das certidões de nascimento, foram até à casa dessa bendita senhora. Ao se ver em frente às duas jovens e daqueles papéis conhecidos seus, dona Maria das Dores tomou um susto. Apesar do tempo decorrido e da idade da senhora, sem titubear, falou:
─ Já sei o que estão procurando, e vocês são irmãs. Mas atendi a um pedido de uma mãe desesperada. Vou contar como isso ocorreu:
─ Dona Marieta, a mãe de vocês, estava grávida e doente. Os médicos diziam que talvez não resistisse aos procedimentos de um parto. Ela chorava muito, estava preocupada com as meninas que iriam nascer. O pai de vocês a deixara, logo que tomou conhecimento do aviso do médico. Ele bebia muito, era irresponsável, não trabalhava, somente fazia bico e todo o dinheiro que arrecadava, era gasto com cachaça.
Dona Maria respirou fundo, pausou suas frases, olhou para aquelas moças, e já as sentiu aliviadas da angústia que as consumiam desde que se encontraram, e resolveu continuar o seu relatório:
─ Dona Marieta pediu-me para procurar duas famílias, remediadas, para tomarem conta de vocês. Não queria que tivessem a mesma vida que levara. Por que famílias separadas? Ela sabia que uma família não aceitaria duas crianças ao mesmo tempo, ainda mais, gêmeas. Pediu ainda, que as duas famílias não morassem na mesma cidade, para não acontecer o que está acontecendo agora.
O relato continuou:
─ Aceitei e passei a procurar essas duas famílias. Parecia que ela queria retardar o encontro entre vocês. Sabia que morando muito perto, isto é, na mesma cidade, o encontro seria fatal. Entendi que próximas, mas em outra cidade, esse dia chegaria, quando já maior de idade e com fácil deslocamento, isso aconteceria. Felizmente as duas famílias não queriam apenas adotá-las, mas tê-las como filhas, graças a Deus. Acompanhei toda a trajetória de vocês, nem mesmo as famílias tomaram conhecimento dessa minha atitude.
As duas garotas, reconhecidas como irmãs verdadeiras, fizeram um pacto:
─ Não daremos conhecimento a ninguém, nem mesmo aos nossos pais adotivos, fingiremos sermos grandes amigas, assim poderemos visitar uma à outra.
Deram-se forte abraço, choraram, agradeceram à velha parteira e foram embora, cada uma para o destino escolhido por Deus.