O Velório de Seu Jorge da Conceição
O velório fora realizado na igrejinha de Pedro, o filho do finado, ali mesmo no Morro de Santa Cruz.
Uma imensa procissão se formou para se despedir do patrono do Morro, do fundador da comunidade.
Havia gente de todo tipo, de todo lugar. Até o movimento, que um dia foi o motivo para o fechamento do Bar de Seu Jorge da Conceição, neste dia baixou as armas e as portas do comércio de todo o morro.
Seu Jorge era conhecido por todos e a todos conhecia. Quando, solto em suas andanças pelo morro parecia politico em época de campanha: todos queriam o cumprimentar, chama-lo para entrar em suas casas, tomar um cafézinho. Houve um dia em que Jorge da Conceição fora dono de todo o morro, não ganhou dinheiro com o surgimento da comunidade, pelo contrário, distribuiu generosas metragens de terra para quase todos que apareceram em sua porta pedindo um lugarzinho para construir uma casinha, um barraco. Alguns lotes ele até vendeu, muito mais por insistência de Dona Deolice, que ao ver seu pequeno “pedacinho do Céu” ser repartido com todo louco que aparecia na frente de seu marido, exigiu dele, pelo menos uma certa reparação.
O velório foi lindo, isso se for possível utilizar tal conceito para uma celebração de despedida de um ente querido. Seus amigos de copo e balcão, levaram engradados de cerveja e uma dúzia de cabeças amarela para o velório, a despeito do jovem presbítero e filho do finado, beberam tudo ali mesmo, no pátio da igreja. um outro grupo de amigos levou pandeiro, tantan e cavaquinho garantindo a formação de um certo partido alto que agradou a muitos e incomodou bastante a pobre viúva. Surgiram também tabuleiros de pastel, coxinha e um tonel de suco de procedência completamente duvidosa. Houve samba, louvor, choro e gargalhadas soltas. Um velório em que até o morto parece sorrir, não pode ser jamais uma despedida triste.
Assim se encerrou a participação de Jorge da Conceição, vulgo Jorginho da Dona Deolice neste mundo de meu Deus.