Foi por pura sorte e a proteção de São Pedro que escapei daquela terrível trapalhada
No ano de 1994, Victor Hugo, publicou em sua coluna no jornal A gazeta:- “Queixa. Piadinha que faz sucesso em Vitória, em meio ao aguaceiro dos últimos dias, dá conta de que há um grupo de turistas argentinos reclamando no Procon. Vão processar o Estado por propaganda enganosa em relação ao prometido e ensolarado verão.”
Bem, na verdade, aquela piadinha tinha um fundo de verdade. Vamos contá-la. Em janeiro de 94 estava no Procon, quando ouvi um zunzunzum nos corredores: “Somos consumidores! Fuimos engañados! Queremos hacer una reclamación!" Dei uma olhada pela fresta da porta, e havia umas dez pessoas vestidas com camisas argentinas, segurando bandeiras de protesto, guarda-sóis, e trajadas de sungas e biquínis. Para evitar o tumulto, pedi que entrassem em minha sala. Logo perguntei: - Qual a reclamação? Um deles que falava nossa língua, relatou: - “Mês passado os jornais o Clarin, La Voz, Punto Notícias, El Sol, publicaram que o verão aqui no Espírito Santo seria o melhor lugar para uma boa férias, pois teria Sol o mês inteiro.” Estendendo as mãos, colocou os jornais em minha mesa. Realmente, tinham razão. Todos falavam a mesma coisa: “En enero en Espírito Santo, Brasil, tendrás un verano increíble! Sol durante todo el mes. "
Lendo o noticiário, falei: "Mas reclamar de quê?" Ele respondeu: "Fomos enganados! Chegamos ontem debaixo de muita chuva e sem previsão de quando irá parar." E ainda reforçou: “Nós somos consumidores e queremos nosso direito! Assinamos um contrato com um hotel em que uma das cláusulas afirmava, que se não houve Sol, devolveriam o dinheiro.” Tentei explicar que o caso era meio complexo.
Maldita a hora que falei aquilo. Todos começaram a gritar: - Somo consumidores! Queremos o nosso direito! Bem, para tentar buscar uma solução melhor, disse que iria analisar melhor o assunto e no dia seguinte daria uma resposta.
Enfim, fui para casa e passei a noite pensando: “De certa forma, tantos os jornais argentinos e os nossos afirmavam com certeza o mês de Sol, além da cláusula contratual.
Mas a dúvida pairava no ar. Concentrado em casa, de repente minha mulher gritou: “O quarto está com goteira! Venha ver como resolver!” Para piorar, meu filho na sala gritou: “Vem, pai! Vai passar o jogo do Boca Juniors e River Plate!”
Não aguentava àquela pressão de goteira e do jogo, que me fazia tremer pensando nos argentinos. O pior é que falaram que iriam aos jornais e processariam o Estado e o hotel. Claro que seria um escândalo aos menos desavisados.
Passei a noite sem dormir. Liguei para um conhecido no Incaper para saber como ficaria o tempo. Ele respondeu: “Pancada de chuva o mês de janeiro com trovoadas de moderada à forte intensidade.” Peguei o Código do Consumidor e ali estava: “Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.
§ 1º É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.” (grifamos).
No caso do artigo, verifiquei que se tratava de um serviço difundido tanto pela imprensa, bem como pelos hotéis, em seus informes publicitários.” Conclusão: “Se a promessa estava clara na cláusula do contrato, o hotel deveria devolver o dinheiro. Contudo, até resolver o assunto, “Los Hermanos” ficaram de plantão, com guarda-chuvas na porta do Procon, buzinando!
Bem, caiu no sono! No dia seguinte, saí cedo de casa, preocupado e sem muita atenção.
Ao chegar o órgão, comecei a atender. Menos de meia hora depois, a secretária me interfonou: “Doutor, tem um argentino no telefone?” Meu Deus? – pensei.
Como buscar uma solução sem escândalo. Ao pegar o telefone, ouvi: - "Doctor! ¡Muchas gracias por resolver el asunto!" “Asunto?” – pensei e, ao mesmo tempo olhei para a janela.
Sei lá como, mas lá estava o Sol pelos quatro cantos! Na hora, pedi a secretária para comprar uma imagem de São Pedro. “São Pedro, doutor!” – respondeu.
E ao querido Victor Hugo, mandei um forte abraço pela “Piadinha”.