Direito é direito!
No ano de 1992, uma velhinha veio ao Procon para fazer uma reclamação. Logo que chegou, exigiu o seu direito de preferência pela idade. Pedi que entrasse em minha sala e se sentasse. A senhora tem alguma dúvida ou quer fazer alguma reclamação? - perguntei. "Não tenho nenhuma reclamação, quero exigir meu direito agora e se demorar, nem sei aonde vão me enterrar!" – respondeu a velhinha. Me relate o seu caso, por gentileza. – falei já esperando o pior. Aí ela desandou a falar: "Eu fiz um plano numa funerária em 24 vezes para pagar o meu caixão. Aqui está o contrato. Tudo em dia." Mas o que a senhora deseja se o carnê está em dia? – interpelei. "Eu sou velha, mas não sou besta e nem estou gagá!" – respondeu. Novamente perguntei: Mas o que ocorreu? "Ocorreu que hoje cedo passei perto da loja da funerária e somente havia três caixões na vitrine.”. “Mas deve ser mostruário." – respondi. "Que mostruário nada! Eles devem estar falidos e logo fecham a loja e como ficará (Deus que me livre) o meu velório sem o meu caixão. E tem mais: - Eu estou pagando por um caixão de mogno, forrado de veludo importado com detalhes em marfim e doze carpideiras para chorarem ao meu lado. E lá está exposto três caixões de pinus, forrados de tergal. Coisa de pobre. Estão ou não estão falindo?" – terminou a velhinha. Bem, buscando uma solução, liguei para os donos da loja e eles vieram imediatamente ao Procon e apresentaram todos os documentos que reforçavam que estavam "bem de saúde financeira". Mas que nada! A velhinha não se convenceu e argumentou: "Eu quero levar hoje meu caixão!" Ouvindo isso e perguntei: "Mas para onde?” “Para onde?" Para a minha casa!" – falou nervosa a velhinha. "Mas em que lugar irá guardá-lo?" - perguntei. "Vai para o quarto da empregada e lá ficará seguro com ela a seu lado. (Coitada da empregada)". Enfim, direito é direito. Mandei uma viatura buscar o caixão e levá-lo para a casa da velhinha. O mais engraçado foi seu agradecimento: "O Senhor é meu convidado de honra!" "Honra?" – indaguei. "Sim. O senhor está convidado para o meu velório." Logo que os estagiários chegaram, perguntei: - Por que demoraram tanto? Ahhh... doutor... quando lá chegamos e explicamos para a moça onde deveria guardar o caixão (No quarto dela) ela desmaiou e tivemos que chamar o SAMU. Meses depois, chegou uma garota chorando ao Procon e queria falar comigo. Bem, quando perguntei por que chorava, ela estendeu as mãos e me entregou um bilhete: - Ao abri-lo, estava escrito: Prezado Senhor. Como prometido, deixei esse bilhete como convidado de honra para o meu enterro.
Em tempo: Fato ocorrido no ano de 1992. E publicado no jornal A Gazeta em 11/10/1992.