Eu e Paris temos um caso de amor, eu confesso. Desde a primeira vez que saí do aeroporto e andei por suas avenidas e jardins, eu sabia que seria para sempre. Coincidentemente Paris também é o berço do espiritismo, país onde Allan kardec decodificou a doutrina espírita que sigo até hoje. Aliás recomendo a qualquer espírita que for a Paris fazer o tour Allan Kardec e conhecer o seu túmulo no Pére-Lachaise, cemitério onde descansa seus restos mortais.

          Paris é a cidade da arte, da moda e do amor, principalmente o amor que estar sempre no ar. Não é raro os amantes namorando às margens do rio Sena. Pensando bem o Sena não é apenas um rio qualquer. Seria um absurdo afirmar uma blasfêmia dessas. Não existe nada mais romântico que começar um grande amor tomando champagne ou fazer um cooper no final da tarde ou simplesmente pegar um bateau Mouche e descer rio abaixo.

          Minha paixão francesa é o Cafe de Flore, que na minha opinião é o café mais descolado. Até hoje circulam estórias maravilhosas que o tornaram uma lenda. Se elas são verídicas? Não sei, mas os franceses que me contaram juram que são verdadeiras, inclusive a rivalidade com o Les Deux Magots, o café vizinho, onde Hemingway e Picasso bebiam. O cafe de Flore vivia vazio mas Simone de Beauvoir achou o Les Deux Magots burguês demais e passou a frequentar o de Flore sendo acompanhada por seu grande amor Jean Paul Sartre. Foi aí que tudo se inverteu, pois todos vinham ver o casal de escritores e o Café de Flore passou a ficar cheio e virou o mais descolado. Dizem que por gratidão, o gerente deixava Simone e Sartre ocuparem uma mesa no primeiro andar para trabalhar, sem a obrigação de consumir muito. Adoro sentar com meu computador em suas mesas e escrever meus textos enquanto saboreio um bom café..

          Um dos presente que me dei ao completar 60 anos foi uma viagem a Paris e no cafe de Flore vivi uma experiência surpreendente. Estava saboreando o excelente chocolate quente com um pedaço de tarte tatin quando meu olhar cruzou com um cara mais ou menos da minha idade que estava em uma mesa de frente a minha. Por um momento pensei que ele olhava para outra pessoa, mas quando tive a certeza que era para mim encarei e ficamos algum tempo nesse jogo. Ele era alto, barba rala, charmoso e muito bem conservado. Tinha um olhar que parecia desnudar a minha alma. Fiquei excitado, mas ao mesmo tempo com muito medo. Então, decidido, ignorando o medo, levantei e fui andando para o hotel que eu estava hospedado e ele começou e me seguir. Entrei na recepção e ele logo atrás. Como é proibido pessoas estranhas nos andares, achei que ele iria ser barrado, mas fiquei surpreso quando ele pediu um cartão para ele e subiu atrás de mim. No corredor do meu andar ele me alcançou, me imprensou contra a parede e começamos a nos beijar com muito tesão. Entramos no meu quarto e transamos a noite toda. Ele era árabe e não conversamos quase nada. De manhã ao acordar estava sozinho e ao perguntar por ele na recepção fui informado que ele havia feito check out. Não sei seu nome, nem ele o meu, mas foi uma das melhores noites da minha vida. Simples, sem perguntas, sem frescura, apenas duas pessoas que queriam viver bons momentos e ponto final.

          O Cafe de Flore sempre será o meu lugar preferido em Paris e como diria a diva Edith Piaf: no, je ne regrette rien. Viva Paris!

José Raimundo Marques
Enviado por José Raimundo Marques em 26/07/2023
Reeditado em 26/07/2023
Código do texto: T7846821
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