Leila

Quando Vinícius finalmente perdeu o interesse pelos carrinhos, começou a prestar mais atenção nas garotas: “Até que essas meninas não são tão chatas quanto eu pensava” – admitiu o garoto para si mesmo.

Ora, aconteceu que para ganhar uma aposta que fizera com alguns colegas, conseguiu que a garota mais tímida de sua classe o beijasse na boca. Foi um beijinho relâmpago, porém, o suficiente para que daquele dia em diante, Vinícius começasse a criar fantasias com o sexo oposto.

Leila chegara aos 38 anos “com tudo em cima” como ela própria costumava dizer. Malhava na academia 4 vezes por semana para manter “aquele corpão” e adorava fazer as dietas da moda. Mãe de dois filhos já entrando na adolescência, casara-se muito cedo. O marido, um policial militar que morria de medo de ladrão, raramente aparecia em casa antes das 9 da noite. O homem adorava jogar futebol com os amigos nos finais de semana, além disso, tinha o mau hábito de fumar um cachimbo fedorento, o que provocava as constantes queixas da esposa. Não obstante, Leila era uma mulher alegre e extrovertida.

Numa manhã quente de verão, mais precisamente num domingo, Vinícius, que então completara 14 anos, observava magnetizado sua vizinha da casa da esquerda lavando a calçada com uma mangueira. Leila usava um short e uma camiseta vermelha, deixando à mostra um par de coxas grossas e bronzeadas.

“Que coxas, meu Deus! E que bunda arrebitada e gostosa tem essa mulher!” Eram estes os pensamentos daquele adolescente consumido por seus desejos libidinosos.

Experiente, Leila percebeu os olhares do rapaz que até bem pouco tempo atrás não passava de um menino que brincava junto com os seus filhos, e em seu íntimo ficou satisfeita por ser desejada por ele. A verdade era que Leila sentia um imenso tédio em sua vida conjugal. Quando terminou de recolher o lixo da calçada, desligou a mangueira e chamou:

– Bom dia, Vinícius, quer vir até aqui um instante, por favor! Ao ser chamado o jovem ficou apreensivo: “ meu Deus, será que ela percebeu meus olhares e agora quer me passar um sermão?”. Quando Vinícius se aproximou, a vizinha começou dizendo:

– Ontem fomos à festa de aniversário da minha sobrinha e eu trouxe um pedação de bolo prestígio que sobrou. Você gosta, Vinícius, aceita um pedaço?

– Gosto sim, dona Leila, obrigado!

– Pois então venha! Entre que vou lhe dar um pedaço. Ao perceber que o adolescente hesitava, a vizinha observou:

– Pode entrar, menino, estou lhe convidando. Além disso, meu marido e meus filhos estão no futebol. Vinícius acompanhou a mulher até a cozinha. Leila retirou a forma da geladeira e acrescentando um guardanapo de papel, colocou o bolo em cima da mesa.

– Pode se servir, menino. Está muito gostoso, aproveite!

– Vou aproveitar sim, dona Leila. Aproveitando-se da proximidade da mulher, o adolescente pensou “coragem, Vinícius, é agora ou nunca.” Num impulso rápido, quase violento, Vinícius agarrou Leila pela cintura e a beijou na boca de forma lasciva, ao mesmo tempo em que acariciava os longos e macios cabelos castanhos da mulher. A esposa do militar não tentou se desvencilhar, não protestou e correspondeu ao ardente beijo. Naquele momento Vinícius aplacava o incêndio hormonal de seu corpo com aquela mulher madura, enquanto Leila curava o seu tédio nos braços daquele “quase menino”. Quando finalmente após longos minutos os corpos se separaram, Leila, ainda algo atordoada pelo ocorrido, ponderou:

– É melhor você levar o bolo pra comer na sua casa.

Nos dias que se seguiram após esse episódio, os dois agiram como se nada tivesse acontecido. Vinícius arranjou uma jovem namorada e logo se esqueceu da atração irresistível que sentira pela vizinha.

Leila continuou casada e ao se tornar evangélica, acabou encontrando nos cultos religiosos, quase festivos, uma forma de dar vazão ao tédio e a solidão que sentia no lar.